sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Eu ia escrever algo aqui movida por um sentimento que me toca às vezes. Mas foi abrir o msn e levei quase uma bofetada de realidade na cara.
Perdi a vontade de escrever. Só deixo esse registro, para que principalmente eu não me esqueça.
Era sobre lirismo e sobre desejar o lirismo, o lirismo dos romances, dos que nos inspiram. Porém acabei de ter a certeza absoluta de que esse lirismo romanesco e romântico que eu desejo não condiz em absoluto com a realidade.
Eu me questionava se um dia teria o privilégio de viver um lirismo como o que desejo. Mas parece que recebi a resposta bem rápido.
O lirismo romântico, quando contrastado com a realidade do nosso mundo, parece uma aberração, de tão irreal ou surreal que é.
Acho que só existiu nas obras escritas, nos filmes feitos, na poesia, na pintura, na música. Só existiu no interior daqueles que lhe deram forma. E morreu com eles, pra renascer na imaginação, na mente ou no coração de algum outro "lunático", como eu e como os que ainda se questionam se, por mais surreal, ele não pode existir um dia, em nossas vidas.
Mas olha que engraçado... começou a tocar uma música agora mesmo que parece querer me dizer que se ele existiu nesses lugares, é porque ele deve ser o reflexo pálido de algo que alguém viu ou viveu e que conseguiu, de alguma forma, passar adiante.
Acho que, além de romântica (no sentido literário do termo), ainda sou platônica.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

terça-feira, 10 de novembro de 2009

A gente vive para trabalhar e trabalha para (sobre)viver.

Eu ando super estressada com certas coisas em minha vida. Em especial, a questão do trabalho.
A humanidade é tão ridícula e tão sem noção que tornou algo que era para cuidar da subsistência em uma finalidade de vida. A gente tem vivido pra trabalhar. Merda. Pior é que eu me incluo nesse grupo de infelizes. Além de todo o absurdo, ainda faço parte dos infelizes que trabalham em algo que não gostam, não pelo trabalho propriamente, mas porque o mesmo não tem NADA a ver comigo! E ainda não ganho o suficiente.. logo, preciso ficar pensando em como me preparar para conseguir outro... trabalho.
O mundo é suficientemente ridículo nesse aspecto para me deixar puta da vida!
Tô totalmente de saco cheio. E ainda faltam 28 anos e meio para eu poder me aposentar (sim, eu já estou pensando na aposentadoria). O péssimo é que passarei, muito provavelmente, esses próximos 28 anos e meio perdendo grande parte do meu dia, da minha vida, em algo que poderia ser feito de forma mais coerente.
Chego em casa tão cansada que não consigo fazer nada de útil mais. Não tenho força nem pra me exercitar, nem para ler, nem para estudar, nem para nada.
Agora, digam-me o sentido desse absurdo, porque eu não tô vendo nenhum, além de não passar fome ou outras necessidades.
Sorte daqueles que, embora tenham que trabalhar, fazem algo que gostam e que, portanto, não estão disperdiçando o próprio tempo.
O mais ridículo é que eu não deveria nem estar reclamando já que a vida nesse mundo é tão terrível que muita gente mataria para ter um emprego qualquer (e não porque queira trabalhar viu, mas porque sem trabalhar não tem como viver...)

sábado, 7 de novembro de 2009

Assim caminha a humanidade.

Já fazem uns dias que tenho pensado muito sobre vários assuntos e que desejo escrever algumas coisas aqui a respeito dos mesmos. Mas esse "algumas" coisas, na realidade, engloba "muita" coisa. Então, de duas, uma: ou eu escreverei um texto gigantesco ou eu esquecerei metade do que gostaria de falar e o texto ficará minúsculo. Vamos ver qual dessas possibilidades se concretiza.
Eu tenho pensado razoavelmente bastante no impacto causado pelo ser humano no planeta e, em especial, no que eu tenho feito ou deixado de fazer e que contribui para agravar tudo o que já está acontecendo.
Claro que eu sei que minhas ações individuais não têm, de fato, grande impacto... mas o problema não são minhas ações dentro de minha microrrealidade e, sim, minhas ações somadas às ações da grande maioria da população humana. É quando olhamos nossas atitudes sobre um prisma mais abrangente que conseguimos perceber, com grande nitidez, o quanto o ser humano se tornou a espécie mais nociva em toda a Natureza, a que mais destrói, a que mais causa sofrimento, tanto para si e seus semelhantes, quanto para as outras espécies, a que mais foi capaz de causar inúmeros danos em um período minímo de tempo...
Basta se informar e observar a quantidade imensa de espécies animais e vegetais que foram extintas ou que estão na lista de espécies em extinção, ou, ainda, observar o aquecimento global (que tem se mostrado desagradavelmente paupável já nos dias atuais), os desmatamentos, a poluição, os genocídios em nome de crenças, dogmas, religiões, ideologias, moral, etc.. melhor parar por aqui, pois a lista de danos planetários é imensa.
Entretanto, também, não quero fazer o papel daquela chata utópica ou, nas piores hipóteses, moralista, que fica apontando os defeitos do mundo e julgando tudo o que acontece com um ar de superioridade.
Eu reconheço que sou fraca e que fiz, e tenho feito, muito pouco para ajudar a reverter essa situação. Não sou mais, ou pelo menos não era mais, até hoje a tarde, aquilo que mais me causava orgulho: o fato de eu ter sido vegetariana e de ter me mantido assim por 14 anos. Porém, faz 1 ano e 1 mês, precisamente quase, que eu tive uma grande recaída e que comecei a comer carne novamente. Eu só me mantive comendo, durante esse período, porque eu deixei de pensar a respeito, ou melhor, toda vez que essa questão vinha à mente, eu a ignorava. Desenvolvi uma barreira aos pensamentos relacionados ao sofrimento animal, ao desrespeito à vida, de uma forma geral, ao desrespeito ao meu próprio organismo, entre outras coisas. E só graças a isso tenho conseguido viver dessa forma.
Porém, hoje me aconteceu algo que torço para ter sido decisivo na minha vontade de retornar ao meu vegetarianismo, no mínimo, embora só isso não seja ideal: estava almoçando com uma amiga, ironicamente, comíamos picanha com batatas, e começamos a conversar exatamente sobre essas questões relacionadas aos animais, aos seres humanos, ao planeta. Sei que parece totalmente absurdo (e até o é) e que é muito contraditório o que fazíamos e o que falávamos concomitantemente... comer carne, confortavelmente sentadas em um restaurante, enquanto se discute o caos mundial é, no mínimo, ridículo, mas não era hipocrisia, nem minha, nem dela.
No entanto, tive um segundo, literalmente, em que tive ciência, de forma impossível de ser negada, de que aquilo que estava mastigando era um animal, ou melhor, era um cadáver de um animal e de que eu estava sendo asquerosa naquele momento (pelo menos perante a aquilo que considero importante para minha saúde emocional e mental, no mínimo). Eu mal consegui engolir o pedaço de carne que tinha na boca, desceu praticamente engasgado, mas desceu, (na hora achei que seria pior tirá-lo da boca, mas, agora, tenho minhas dúvidas). Depois disso, não consegui comer o restante. A "sorte" é que faltava pouco, porque, do contrário, além de todo o absurdo que era ter matado um animal para comer, teria o absurdo ainda maior de jogar o corpo dele no lixo.. está certo que isso aconteceu, mas foi pouco e foi porque eu realmente não consegui comer mais.
Senti nojo de mim mesma.
Não quero fazer apologias a isso ou a aquilo. Mas se alguém parar para pensar e, a partir de então, rever os comportamentos que tem habitualmente graças a algo que leu aqui, eu ficaria muito feliz.
O pior é que eu me detive no aspecto do vegetarianismo motivado pelo respeito ao outro ser vivo.
Porém, o problema vai muito além disso: há as consequências prejudiciais do consumo de carne para o meio ambiente. Comendo carne, nós não prejudicamos apenas aquele animal que foi morto, mas causamos um prejuízo que atinge uma escala global. A natureza é um organismo perfeito e harmônico, a menos que haja interferência nela, pois, ao mesmo tempo em que ela possui essa perfeição e essa harmonia, ela, também, possui uma característica preocupante: sua harmonia é frágil.
Basta prejudicarmos um elo de sua grande cadeia, para que a prejudiquemos como um todo.
Assim, o mesmo gado que sofre no abate para que possamos nos alimentar, nos vestir, nos calçar, etc, é o gado que incentiva o desmatamento de extensas áreas florestais para a criação de pastos. Esse desmatamento, além de intensificar o aquecimento global, que por sua vez vai derreter as geleiras e desestruturar todo o ecossistema do local, também acelera a extinção de espécies que perdem seu habitat, e que, devido ao ritmo acelerado das mudanças, não são capazes de se adaptarem a tempo para poder sobreviver... Vocês já viram a imagem de um urso polar desnutrido? Se não viram, vejam. Eu vi e, infelizmente, é uma das imagens mais terríveis que vi em toda a minha vida, e olha que já vi muita coisa terrível por aí. Fiquei em estado de choque. Sério. Não é exagero. Mas a imagem é inconcebível. Óbvio que também é terrível ver seres humanos desnutridos ou qualquer ser vivo passando por situações tão drásticas e tão potencialmente mortais. Mas, mesmo assim, a imagem desse urso polar se mantém absolutamente mais chocante em minha memória. Ele era, literamente, pele (e pelos, poucos, aliás) e osso. Terrível.
O pior é que, para convencer o ser humano a mudar seus hábitos destrutivos, o único argumento que parece eficaz para a maioria é o fato de que o próprio ser humano será prejudicado por essas ações. Em nenhum momento, quase, ouve-se falar na preservação por si só, ou por respeito aos outros seres vivos. Pelo contrário, é sempre porque fazendo isso ou fazendo aquilo o ser humano está se prejudicando e plantando sofrimento para si próprio ou para sua prole.
É um egoísmo absurdo. Um real antropocentrismo no sentido filológico do termo. O ser humano é o motivo de tudo, é o único que importa, é a partir dele que todo o resto deve se definir e é em benefício única e exclusivamente dele, quase sempre, que as demais espécies são tratadas.
É um egoísmo terrível.
O pior é que, além de egoísmo, é uma maldade absurda. E, por mais absurdo que possa ser para alguém realmente racional, esse egoísmo e essa maldade se estendem aos outros seres humanos que, com ele, convivem. Assassinatos, exploração de todo tipo, seja econômica, sexual, trabalhista, ou o que for, genocídios, estupros, linchamentos, matanças em nome de alguma religião, preconceitos, intolerância, agressão e uma imensa infinidade de atos são absolutamente rotineiros em nosso mundo. Alguns ainda conseguem nos chocar, outros já não são sequer percebidos, e outros, ainda, não são nem vistos como algo que "errado", de tão normais que se tornaram.
O grande problema talvez seja a capacidade humana de racionalizar (no mau sentido do termo) tudo o que pensam ou fazem. Tudo parece ter um motivo para ser feito, tudo tem uma justificativa quase sempre na ponta da língua, ou uma desculpa. Algumas dessas desculpas e dessas justificativas baseam-se na moral, outras nos costumes, outras em dogmas, outras em crenças, outras em ideologias...
As pessoas chegam a culpar, por exemplo, sistemas políticoeconômicos pelo fracasso de uma determinada nação. Mas, esses dias, conversando com colegas antes de entrar na aula, ouvi um comentário de que o comunismo não dará certo nunca, já que, até hoje, fracassou em todos os locais onde foi implantado. Nisso, uma colega virou-se para mim e minha amiga e soltou o seguinte comentário que, por mais óbvio, nunca tinha passado pela minha cabeça: e qual país capitalista deu certo afinal?
E percebi que é verdade. Nenhum deu certo. Verdadeiramente certo. Do contrário, as coisas não estariam da forma que estão. O pior é que os seres humanos culpam as estruturas, ou o outro, o diferente, pelo caos, quando, na verdade, o problema é O ser humano. O próprio. O mal ou o bem que ele pode causar independe de suas crenças ou ideologias, de sua religião ou opção sexual, de sua etnia ou do que quer que seja. O problema não está no capitalismo e a salvação não está, e nunca estará, no comunismo. O problema vai existir enquanto existirem pessoas. É terrivelmente simples assim. E, naquele momento, isso me ficou muito claro.
Nenhum sistema político, nenhuma ideologia, nenhuma religião dará realmente certo, porque é produto do ser humano e esse é passível de falhas. Aliás, a melhor descrição para o ser humano não é a de animal racional (pelo contrário, percebe-se que de razão, geralmente, há pouco), mas de animal que falha. Falha consigo, falha com o próximo, falha com o que lhe é diferente, falha com outras espécies, falha com os ecossistemas, falha com a vida como um tudo.
Mas eu sei que não é culpa dele (aliás o conceito de culpa, por si só, é nojento; já que o ser humano tem incutido em si, desde cedo, a ideia de que é culpado por tudo no mundo. mas não é nojento por ser totalmente mentira, pelo contrário, é verdadeiro em muitos aspectos, porém é nojento porque é hipócrita, já que poucos realmente fazem algo para mudar aquilo que lhe causa a culpa. há uma admissão irracional da mesma. o padre ou o pastor ou o monge ou quem quer que seja fala "você é culpado" e a pessoa responde com um "minha culpa" e fica tudo por isso mesmo. Simples assim, rápido e indolor).
Cada vez mais, eu percebo que observar e pensar doem. E olha que eu sou capaz de observar pouco e de pensar menos ainda. Mas ainda assim já dói. Fico imaginando como algumas pessoas admiráveis conseguiram viver nessas condições. Já não me parece tão estranho alguns enlouquecerem durante a vida.. pra ser sincera, está me parecendo mais absurdo alguém se manter "são" em vida.
No final das contas, loucos somos nós, que somos "normais" e que conseguimos não pensar a todo instante a respeito dessas coisas ou que, mesmo pensando de vez em quando, continuamos do mesmo jeito..

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A merda da intolerância

http://oglobo.globo.com/blogs/moreira/posts/2009/11/04/noiva-gotica-espancada-por-se-casar-de-preto-238065.asp

Vejam só que notícia triste e que atitude mais ridícula a dos responsáveis por essa agressão. Estou literalmente de saco cheio de intolerância, de preconceito, seja de qual tipo for, homofobia, preconceito racial, preconceito por razões sócio-econômicas, por questões ideológicas, ou por características pessoais que alguns consideram estranhas, para ficar em alguns tipos.
Esse tipo de coisa me entristece.
Babacas cretinos.

domingo, 25 de outubro de 2009

Emo...

Gente, eu sei que os emos não são lá muito bem vistos, embora eu não entenda muito o porquê, já que eu os acho tão fofinhos e gosto tanto do visual deles... eles me lembram minigóticos.. não são fofos? :P
Mas, apesar de poder ser apedrejada em praça pública por isso, vou colocar um link de uma video do My chemical romance... é a única música deles que eu ouvi até hoje e pretendo, inclusive, xeretar mais uns videos no youtube.
Pra ser beeeeeeeem sincera, meu caso com esse clip foi de paixão à primeira vista.. gosto tanto da música, é tão bonitinha a letra, a voz do mocinho é tão agradável, a coreografia e o figurino são tudo de bom também e o vocalista, pra completar, é um tchutchuco! Tudibão sô!
Então, quem quiser, até pode me bater depois, mas veja o clip.. é fofo.
:D

http://www.youtube.com/watch?v=pWzIDY0jvpg

Vou pôr a letrinha aqui (repararam no excesso de diminutivos né?)

Helena

Long ago,
Just like the hearse
You die to get in again
We are so far from you
Burning on, just like the match
You strike to incinerate
The lives of everyone you know
And what's the worst you take
From every heart you break
And like the blade you stain
Well, I've been holding on tonight
What's the worst that I can say
Things are better if I stay
So long and goodnight
So long not goodnight
Came a time
When every star falls
Brought you to tears again
We are the very hurt you sold
And what's the worst you take
From every heart you break
And like the blade you stain
Well, I've been holding on tonight
What's the worst that I can say?
Things are better if I stay
So long and goodnight
So long not goodnight
Well, if you carry on this way
Things are better if I stay
So long and goodnight
So long not goodnight
Can you hear me?
Are you near me?
Can we pretend to leave?
And then we'll meet again
When both our cars collide
What's the worst that I can say
Things are better if I stay
So long and goodnight
So long not goodnight
Well, if you carry on this way
Things are better if I stay
So long and goodnight
So long not goodnight

(muito emuxo) :~~~

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Maravilhas russas


Foram as duas melhores telas da exposição de arte russa (no centro cultural banco do Brasil), na minha opinião.
O Chagall eu já conhecia... mas ao vivo é a coisa mais incrível, tive que parar pra olhar por 3 vezes.. a da Natalia Gontcharova (Inverno) é linda também.
Fiz interpretações suuuuuuuuuuuuuuuper legais para as duas... mas é segredo. Vai quem alguém fica bobo com minha genialidade né :P


sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Às vezes, quando me olho ao espelho, não me reconheço. Não identifico aquele rosto e aqueles gestos como sendo meus, como sendo eu. Muitas outras vezes, sem sequer precisar do espelho, sinto como se estivesse ausente de mim, sinto que me esqueço, e esse esquecimento, quando percebido, espanta-me por ser possível e, absolutamente, recorrente.Esqueço-me daquilo que, do mundo e no mundo, comunica-se com minha alma. Esqueço-me do que me é essencial. Das poucas coisas que me são, realmente, importantes.

Eu... por Cabanel


The lovers - Magritte


Ocorreu-me uma série de interpretações.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Tô boquiaberta!



Era para eu estar dormindo, mas não aguentei e vim aqui tecer uns comentários. Nem sei se alguém ainda lê esse blog, mas beleza.

Hoje, estava lendo a edição de 16/09 da revista Carta Capital. Ai, sei lá porque, comecei a ler os artigos de um caderno sobre tecnologia, que está no interior dessa edição. Sério, fiquei boba! Totalmente admirada!

Primeiro com o fato de existir tanta gente extremamente inteligente e genial nesse mundo, gente capaz de tornar possível aquilo que parecia coisa de ficção científica. Por exemplo, eu nunca tinha ouvido falar de biohackers, de realidade ampliada (mal sei a respeito da realidade virtual), de cataventos produzindo energia elétrica no meio do oceano, longe da costa.. entre outras coisas, já que não li todos os artigos. Sabe aquelas coisas que, ou sequer imaginamos serem possíveis, ou que, na melhor das hipóteses, acreditamos serem possíveis um dia, talvez, em um futuro distante? Então, esse tipo de coisa! E eu fiquei impressionada com a total ignorância em que vive quase toda a humanidade, a gente nem sonha com as coisas incríveis que estão sendo descobertas, pesquisadas e desenvolvidas por aí...

A segunda coisa que me admirou foi o fato de muitos desses artigos se referirem a coisas que foram descobertas por cientistas dos países nórdicos, e, em menor escala, da Alemanha, Holanda, EUA, França, Inglaterra... mas depois pensei bem e conclui que não poderia ser diferente. Afinal, quantas notícias de corrupção, assassinatos, crimes hediondos, a gente fica sabendo sobre a Noruega, por exemplo? (exceto algum assassinato imbecil cometido por algum black metal). Se eles não precisam perder tempo com essas coisas estúpidas, óbvio que podem aproveitar esse tempo para fazer algo interessante né? Ainda mais se levarmos em conta que por lá cultura e ensino não são artigos supérfluos (comentário importante: não sou uma "paga pau" dos nórdicos, nem de possíveis idéias de superioridade deles ou de outros países da Europa, aliás nem se trata de ser essa a questão). Ao contrário daqui, onde se encontra um contingente de analfabetos, semianalfabetos ou analfabetos funcionais. Mas o que se poderia esperar de um país como o Brasil, onde as grandes preocupações são as novelas, as partidas de futebol, o próximo BBB, o campeão de No Limite ou de A fazenda (melhor parar por aqui, senão a lista ficará gigantesca)? Pouco importam outros assuntos. Pra que estudar se existe a progressão continuada? Pra que estudar se o crime às vezes é mais lucrativo? E pra que estudar se todo mundo acha a política brasileira um nojo mas, se pudesse, provavelmente tiraria uma "casquinha"? Paciência né?

É, é pra se ficar boquiaberto mesmo. Não só com toda a inteligência e as coisas surrealmente incríveis que estão surgindo graças aos cientistas, mas também com a ignorância total em que nós, "seres normais", vivemos.

Óbvio, não se trata, aqui, de uma apologia à ciência. Poderia mencionar as Artes, a Literatura, o Cinema, sei lá... maravilhas existem em todos os campos do conhecimento, mas, como o que me marcou foram as matérias sobre tecnologia, foi a isso que detive meus comentários.

Se quiserem ficar encantados, ou assustados, ou os dois, também, aconselho a comprarem a revista.

Nem é necessário ler as reportagens, no caso de quem discorda da linha editorial da mesma, mas, tendo o dinheiro, vale a pena comprá-la só para ler essa parte sobre teconologia.

É isso...
obs: não fiz revisão, então deve ter vários erros, mas agora tô com sono, então fica pra depois, talvez.

domingo, 30 de agosto de 2009

Dostoievski


O sonho de um homem ridículo

Colocarei, abaixo, um dos melhores contos que li em toda minha vida. Não é a toa que ele foi um gênio. Esse texto é um espetáculo, o pior é que se trata de um sonho realísticamente triste demais. ;/

O SONHO DE UM HOMEM RIDÍCULO
( NARRATIVA FANTÁSTICA )
( 1877 )


DOSTOIEVSKI

PRIMEIRO

SOU UM HOMEM ridículo. Agora já quase me têm por louco. O que significaria ter ganho em consideração, se não continuasse sendo um homem ridículo. Mas eu já não me aborreço por causa disso, agora já não guardo rancor a ninguém e gosto de toda a gente, ainda que se riam de mim... sim, senhor, agora, não sei por quê, mas sinto por todos os meus próximos uma ternura especial. Teria muito gosto em acompanhá-los no vosso riso... não precisamente nesse riso à minha custa, mas sim pelo carinho que me inspiram, se não me fizesse tanta pena vê-los. É pena que não saibam a verdade. Oh, meu Deus! quanto custa isso de ser um só a saber a verdade! Mas isto não compreendem eles. Não, nunca compreenderiam isto.
A princípio fazia-me sofrer muito a idéia de parecer ridículo. Não o parecê-lo, mas o sê-lo. Eu sempre fui ridículo, e eu já o sabia talvez desde que nasci. Talvez já aos sete anos eu me apercebesse perfeitamente de que era ridículo. Depois fui para a escola, e a seguir para a Universidade, mas... quanto mais aprendia, mais obrigado me via a reconhecer a minha condição de criatura ridícula. De maneira que todos os meus estudos universitários não tinham outro objetivo senão o demonstrarem-me e explicarem-me a mim próprio, nas minhas meditações, que eu era um ser ridículo. E, na vida, acontecia-me o mesmo com a ciência. Todos os anos aumentava e se fortalecia em mim o conhecimento da minha condição ridícula, em todos os sentidos. Toda a gente se ria de mim. Mas ninguém sabia, nem suspeitava sequer, que, se existia no mundo um homem que soubesse melhor do que todos eles como eu era ridículo, esse homem era era eu próprio. E era precisamente isso o que mais me enraivecia: que não soubessem. Mas disso tinha eu a culpa. Fui sempre tão orgulhoso que por nada desse mundo o teria confessado a ninguém. E esse orgulho ia crescendo também em mim com os anos, e se eu me tivesse permitido confessar a alguém, fosse a quem fosse, espontaneamente, que era um homem ridículo, teria imediatamente metido um tiro na cabeça, na tarde do mesmo dia. Oh, quanto me fez sofrer, na minha mocidade, o medo de não poder talvez conter-me e de dizê-lo de repente, eu próprio, aos meus companheiros! Mas, com o andar do tempo, quando me tornei um rapazote e, apesar de continuar reconhecendo cada vez melhor todos os anos essa terrível condição minha, fui-me sentindo cada vez mais tranqüilo... não sei por quê... precisamente por alguma razão que ainda hoje ignoro. Talvez por, nessa altura, se ter introduzido na minha alma o receio perante determinado conhecimento que humanamente era mais elevado que o meu eu... e que foi a convicção adquirida de que tudo neste mundo é, afinal, uno.
Havia já muito tempo que o pressentira, mas a convicção plena só assentou no meu espírito no último ano e de uma maneira súbita. Senti de um momento para outro que para mim tudo era indiferente, que tanto me fazia que o mundo existisse como não. Pouco a pouco ia vendo e sentindo que não havia nada fora de mim. Parecia-me que, de fato, a princípio tinham existido muitas coisas, mas adivinhei igualmente depois que antes também não tinha havido nada, e que se assim me parecera foi por alguma razão. E, pouco a pouco, fui-me convencendo que daí para diante também não haveria nada. A partir dessa altura até agora deixei de preocupar-me mais com os mortais e quase e quase não voltei a dar-lhes atenção. O que não tardou a refletir-se sobre as coisas mais insignificantes, pois ocorria-me, por exemplo, quando andava pelas ruas, dar encontrões em toda a gente. E não se julgue que era por ir afundando em meditações, isso não podia ser, porque eu já tinha de pensar em tudo, tudo me era indiferente. Ainda se ao menos me tivesse entregue à resolução de problemas! Mas não, nem um só resolvi na minha vida, e, isso, havendo-os aos pontapés. Mas como tanto me fazia, os problemas afastavam-se de mim sozinhos.
E mais para adiante, de repente, soube a verdade. Soube a verdade no último mês de novembro, precisamente a três de novembro, e desde então não se apagou da minha memória nenhum pormenor da minha vida. Foi numa noite tão escura, tão escura como nunca vi outra tão tenebrosa. Voltava para casa, aí pelas onze horas da noite, e ainda me lembro que ia pensando em que não poderia haver noite mais escura e mais lôbrega. Até em sentido físico. Todo o dia havia chovido, mas uma chuva extremamente fria e aborrecida, uma chuva dessas que deprimem o ânimo a tal ponto que ainda me lembro de sentir hostilidade contra os homens. E, de repente, a chuva parou e passou a sentir-se uma umidade terrível, ainda mais úmida e mais fria que a chuva, e de todos os lados levantou-se uma espécie de névoa que surgia de cada pedra da rua e de cada esquina, quando, ao passar, uma pessoa se punha a olhar a rua de longe. Ocorreu-me de repente pensar se os lampiões se teriam se apagado, seria muito melhor, porque com as luzinhas do gás tudo se tornava mais triste, pois a luz deixava ver tudo. Eu mal comera naquele dia e desde o escurecer que tinha estado em casa dum engenheiro. Não tinha aberto a boca durante todo esse tempo e calculo que a minha presença os aborrecesse. Falavam não sei de que, e, de repente, puseram-se a altercar, enredando-se na discussão. Mas, no fundo, nada daquilo os interessava, de maneira nenhuma, isso sabia eu, e se se acaloravam era por se acalorarem. Eu, de repente, fui e disse-lhes: “Deixem-se de discussões, que isso, para vocês, vem tudo a dar no mesmo”. Eles, em vez de o levarem a mal, não fizeram mais nada senão rir-se de mim. Porque eu não lhes tinha dito aquilo em ar de censura, mas porque tudo me era indiferente. Eles percebiam claramente que para mim tudo me era indiferente e achavam graça ao caso.
Enquanto eu, pelas ruas, ia pensando na extinção dos lampiões, lembrei-me de erguer os olhos ao céu. Estava tremendamente escuro, mas distinguiam-se com toda a nitidez umas grossas nuvens claras, que por ele vogavam, desgarradas, desfeitas, e entre elas, no espaço vazio, grandes manchas negras. De súbito descobri numa dessas manchas uma estrelinha. Parei e pus-me a observá-la, atento. Fiz isso unicamente porque aquela estrelinha me sugeriu uma idéia: decidi meter um tiro no corpo nessa mesma noite. Já dois meses atrás o tinha decidido assim solenemente, e, apesar de estar tão mal de dinheiro como estava, arranjara um bonito revólver, o qual tinha carregado naquele mesmo dia. No entanto, tinham já passado dois meses e o tal revólver continuava na minha gaveta, tão indiferente me era tudo, que queria esperar por um momento em que assim não fosse, embora ignorasse o motivo desse adiamento. E, quando voltava a casa todas as noites, durante esses dois meses, julgava que ia ser essa a noite em que eu dava o tiro. Estava sempre à espera do momento. E, de repente, aquela estrelinha sugeriu-me a idéia e resolvi terminantemente meter a bala no corpo nessa noite. Não sei é por que me teria a estrelinha sugerido tal idéia.
Mas sucedeu que, enquanto olhava o céu, uma menina me acotovelou. A rua estava já deserta, completamente deserta, e não se via vivalma por aqueles arredores. Apenas ao longe um cocheiro de drójki dormia sobre a boléia. Pode ser que a tal menina tivesse apenas oito anos, trazia um vestidinho muito fino, como agasalho trazia apenas um lenço, estava completamente encharcada pela chuva, mas o que mais me chamou a atenção foram os seus sapatinhos, rotos e molhados, de tal maneira que ainda me parece estar a vê-los. Saltaram-me à vista, de um modo estranho. De repente, a pequena bateu-me no braço e gritou não sei que. Não chorava, mas proferia algumas palavras, que não podia articular bem por causa do frio, como num ladrido, e todo o corpo lhe tiritava. Estava tão assustada, era tal o seu medo, que no seu desespero não fazia mais senão balbuciar e gritar sempre o mesmo: “Mã! Mã!”. Voltei-me para olha-la, mas não disse nada e segui o meu caminho, ela deitou a correr atrás de mim, puxando-me constantemente pelo braço e gritando nesse tom que, nas crianças assustadas, denota o desespero. Conheço esse tom. Ainda que a pequenina não exprimisse claramente o seu conflito por palavras, compreendi que a mãe estaria a morrer em casa ou que ali devia ter acontecido outra desgraça horrível, e que ela saíra de casa para pedir o auxílio de algum transeunte, a fim de encontrar alguma coisa com que socorrer a mãe. Mas eu não segui na direção que ela me indicava, e até, pelo contrário, comecei a afugentá-la do meu lado. A princípio disse-lhe que ia procurar um guarda noturno. Mas ela abriu as duas mãos, implorante, e continuou a correr atrás de mim, soluçante, ansiosa. Parecia que tinha medo de perder-me. Eu então me adiantei e, de repente, bati com o pé no chão, e ela deu um grito. Gritava angustiosamente: “Meu rico senhor, meu rico senhor!...”. Mas depois parou e, de repente, deitou a correr pelo meio da rua, onde se via um vulto, deixando-me a mim para importunar outro.
Subi ao meu quinto andar. Tenho aí um quarto que aluguei a uma mulher. É um quarto miserável e pequeno, tem apenas uma clarabóia no teto. O meu mobiliário compõe-se de um divã, forrado de oleado, de uma mesa, sobre a qual tenho os meus livros, duas cadeiras e uma poltrona, esta, velha, velhíssima, mas muito cômoda. Sento-me nela, acendo a luz e ponho-me a pensar. No quarto contíguo, separado do meu apenas por um magro tabique, há já três dias que dura o rega-bofe. Vivia aí um capitão reformado, que também tinha hóspedes – seis homens. Estavam quase sempre jogando com um baralho velho e gorduroso. Nas noites anteriores bateram-se, e de dois deles sabia eu que se tinham mutuamente puxado os cabelos. A dona da casa pensou queixar-se, mas não se atreveu, por ter medo do capitão. Além dos sitos vizinhos, havia também na casa uma senhora muito franzina e magra, uma provinciana com três filhos pequenos e que lhe adoeceram já aqui. Tanto ela como as crianças tem um medo ridículo do capitão, e sempre que tem hóspedes passam a noite em claro, tremendo e persignando-se, e o menorzinho até sofre de convulsões, de tão medroso. O tal capitão, sei-o muito bem, costuma algumas vezes pedir esmola aos transeuntes do Niévski Próspekt, e não se preocupa absolutamente nada com arranjar emprego, embora – coisa estranha-, durante todo o tempo que tem estado me casa, nunca me tenha incomodado de maneira nenhuma. É certo que eu, desde o princípio, evitei o seu convívio, e que fiz todo o possível por aborrece-lo da primeira vez que veio ao meu cubículo, visitar-me, mas que gritem lá no seu quarto quanto quiserem... isso é-me indiferente. Eu passo a noite inteira sentado na minha poltrona, e, para dizer a verdade, nem os ouço... A tal ponto consigo esquecer-me deles e dos seus gritos. Mas passo toda a noite em claro... Há já um ano que isto acontece. Fico sentadinho na poltrona até que clareia, e sem fazer nada. Ler, só leio de dia. Estou sentado e nem sequer penso em nada, fico sentado tranqüilamente e deixo o pensamento vaguear. A luz consome-se numa noite. Sento-me à mesa, pego no revólver e coloco-o na minha frente. Ainda me lembro de que... quando o coloquei ali diante, perguntei a mim próprio: “Sim?” E que respondi com toda a tranqüilidade: “Sim”. Por isso decidi meter uma bala no corpo nessa mesma noite. Eu sabia que nessa mesma noite haveria de esfacelar irremediavelmente a caixa craniana, mas não sabia quanto tempo haveria de continuar ainda ali sentado até esse momento. E, não há dúvida nenhuma de que teria um tiro na cabeça nessa noite, se não fosse por causa daquela pequenina...
II

MAS VEJAM: apesar de tudo me ser indiferente, sentia, por exemplo, a dor, sim, a dor, senti-a. Se alguém me tivesse batido, teria sentido a dor. E o mesmo no terreno moral, se tivesse acontecido algo de triste, teria sentido piedade, tal como antes de tudo se me ter tornado indiferente. Por isso, daquela vez, senti compaixão, eu não tinha outro remédio senão prestar o meu auxílio a uma pequenina, fosse como fosse. Por que não o tinha prestado àquela? Porque, precisamente nesse momento, me ocorreu uma idéia: quando ela me puxou pelo braço e me falou, surgiu-me um problema para o qual não encontrava resposta. Era uma pergunta ociosa, mas, no entanto, aborrecia-me. Punha-me de mau-humor, devido à conclusão lógica a que eu chegara, a conclusão de que, uma vez que ia rebentar com a caixa dos miolos, tudo me devia ser indiferente. Mas por que sentiria eu então de repente que nem tudo me era indiferente e que tinha pena da pequenina? Ainda me lembro de que me inspirava uma autêntica piedade, sim, até ao ponto de sentir uma dor muito especial, inspirava-me piedade, uma dor que era absolutamente inverossímil e intempestiva, na situação em que me encontrava. Não, não consigo descrever bem o meu fugidio sentimento de então, mas esse sentimento ainda perdurava no meu espírito depois de eu ter entrado no meu quarto e depois de estar já sentado à mesa, e me encontrava tão agitado como havia muito não o estava. Uma apreciação traía a outra. No entanto é evidente que eu, apesar de ser um homem e não um zero, isto é, apesar de não me ter ainda transformado num zero, é evidente, repito, que estou vivo... e, por conseguinte, ainda posso aborrecer-me e sofrer sem sentir vergonha dos meus atos. Bem. Quanto a mim... Mas se eu, por exemplo, me mato dentro de duas horas, que pode importar-me essa pobre pequenina e que podem incomodar-me a vergonha e o mundo inteiro? Transformo-me num zero, num zero absoluto. E poderia realmente a consciência de que vou deixar de existir dentro em breve, e, por conseqüência, de que tudo vai também deixar de existir, não ter a menor influência sobre o sentimento de piedade que inspira esse ser, nem sobre o sentimento de vergonha pela brutalidade em que uma pessoa tenha incorrido? Foi só por isto que eu bati com o pé no chão e lancei aquele grito tão furioso, porque queria demonstrar que eu... não só não sentia piedade alguma como também era capaz de cometer a grosseria mais desumana, já que dali a duas horas tudo estaria acabado e que já não existiria absolutamente nada. Acreditar-me-ão se lhes disser que foi só por isso que a afugentei? Estou absolutamente convencido disso. Naquele momento era para mim absolutamente evidente que a vida e o mundo dependiam quase unicamente de mim. Posso dizer mais ainda: que o mundo, agora, parecia quase criado para mim apenas... pois quando tivesse dado o tiro, o mundo deixaria de existir, pelo menos para mim. Isto para não falar sequer de que talvez realmente não houvesse nada mais para ninguém, depois de mim, e que talvez o mundo inteiro, quando o meu conhecimento se extinguisse, se desvanecesse imediatamente como uma visão, como um simples atributo desse conhecimento meu e deixasse de existir, pois talvez todo esse mundo e todos esses homens sejam... unicamente eu mesmo. Lembro-me de que ia abandonando todas essas novas perguntas, que me assaltam uma atrás da outra, e pensava qualquer coisa completamente nova para mim. Tudo isto, sentado na minha poltrona, sempre a pensar. E, de repente, entre outros, ocorreu-me um pensamento estranho: se eu, por exemplo, tivesse vivido na Lua noutro tempo, ou no planeta Marte, e cometido aí alguma ação incrivelmente desonesta, a mais desonesta que imaginar se possa, e devido a essa ação me tivesse visto aí ultrajado e desonrado de uma maneira como só às vezes pode ver-se nos sonhos, sob o influxo de um pesadelo, e depois, na Terra, não me abandonasse a recordação daquilo que eu tivesse feito nos outros planetas, e soubesse, além disso, que jamais, fosse como fosse, havia de voltar a esses outros planetas – pergunto então: “Quando eu olhasse a Lua, cá da Terra, tudo seria para mim indiferente... ou não? Envergonhar-me-ia ou não, então, dessas minhas ações?” Essas perguntas eram ociosas ou supérfluas, visto que estava ali o revólver diante dos meus olhos, em cima da mesa, e que eu sabia de certeza absoluta que aquilo havia de acontecer infalivelmente... Mas, no entanto, essas perguntas pungiam-me e molestavam-me. Parecia-me que afinal não podia morrer sem ter, de qualquer maneira, resolvido esses problemas. Em resumo: aquela pequenina salvou-me, pois, devido àquelas perguntas, adiei a minha morte. Entretanto, no quarto do capitão reinava o silêncio, o dono da casa e os hóspedes tinham acabado de jogar e preparavam-se para dormir, embora sem deixarem de resmungar ou de insultar-se até ao fim, na sua bebedeira. E então sucedeu-me adormecer de repente, coisa que nunca antes me acontecera, sentado na poltrona, junto da mesa. Adormeci de um momento para o outro.
Como se sabe, os sonhos são uma coisa muito estranha. Percebemos neles, com uma clareza assustadora, com uma artística elaboração, certos pormenores, ao passo que passamos outros completamente por alto, como se não existissem, sucedendo assim, por exemplo, com o tempo e com o espaço. Creio que os sonhos não os sonha a razão, mas o desejo, não a cabeça, mas o coração, e, no entanto, sobre que coisas tão complicadas passa às vezes a minha razão, no sonho! Coisas absolutamente incompreensíveis. Por exemplo: há cinco anos que morreu o meu irmão, mas eu costumo vê-lo freqüentemente nos meus sonhos, toma parte em tudo quanto me interessa, falamos longamente de tudo quanto se possa imaginar, mas, ao mesmo tempo, tenho sempre a consciência e nunca me esqueço um momento que há já muito tempo que o meu irmão está morto e enterrado. Mas a que é devido o fato de eu não estranhar, de maneira nenhuma, a sua presença? Que não me espante que o morto se sente junto a mim e que me fale? Por que não se revolta a minha razão? Mas já chega. Vou agora falar-lhes do meu sonho. Sim, nesse tempo tive eu aquele sonho, o meu sonho de três de novembro. Os senhores dir-me-ão, agora, que se tratou apenas de um sonho. Mas é completamente indiferente que fosse um sonho ou não fosse, uma vez que este sonho me tivesse revelado a verdade? Porque uma vez que se reconheceu a verdade, depois que ela se vê, já sabemos que é a verdade única, que fora dela não pode haver nenhuma outra, quer estejamos adormecidos ou acordados. Pois bem: se é um sonho, por mim, admito-o. Mas essa vida, que os senhores tanto apreciam, estava eu disposto a deixá-la servindo-me do suicídio, ao passo que o meu sonho, o meu sonho... ah, o meu sonho veio revelar-me uma vida nova, grande, maravilhosa!
Atenção.
III

DIZIA EU que me deixara adormecer sem dar por isso, parecia-me que não fazia outra coisa senão continuar meditando acerca desses problemas. De repente, pego no revólver – isto é, pareceu-me que pegava nele em sonhos, que o aponto ao coração, ao coração e não à cabeça, quando afinal eu decidira antes meter um tiro na cabeça, irrevogavelmente na cabeça, e, para melhor precisão ainda, na fonte direita. Depois de apoiar o cano contra o peito, esperei um segundo, apenas um segundo, e a luz, a mesa e a parede começaram de repente a cair-me por cima e a dançar. Apertei rapidamente o gatilho.
Costumamos sonhar às vezes que nos despenhamos de uma grande altura ou que nos matam ou nos batem, mas não sentimos nenhuma dor, nesses casos, a menos que uma pessoa se magoe na cama: nesse caso, sim, sentimos uma dorzinha que nos acorda. Pois foi isso mesmo o que me aconteceu no meu sonho de então: não senti dor, mas pareceu-me que, por causa do tiro, tudo de mim...se tinha partido e de repente se desfazia, e tudo à minha volta ficava mergulhado numas trevas pavorosas. Quedei-me, quase cego e mudo, e compreendi que estava estendido sobre qualquer coisa dura, de boca para cima, e não via nada nem podia fazer o menor movimento. E a minha volta passavam pessoas, que gritavam, ouvia a voz de baixo do capitão e a vozinha de soprano da dona da casa, e, de repente, outra pausa... e começam a colocar-me no caixão, e sinto como os portadores do meu ataúde cambaleiam ao caminhar, e ponho-me a pensar nisso, e de repente tomo pela primeira vez consciência de que estou morto, de que sou um defunto, do que não tenho a mínima dúvida, que não vejo nem posso mover-me, se bem que, apesar de tudo, sinta e pense. Mas não tarda que me resigne, e, como costumamos fazer nos sonhos, aceito a realidade sem ripostar.
Mas eis que me arrojam a uma cova profunda e me enterram. Todos se retiram e fico ali sozinho, completamente só, o que pode dizer-se absolutamente sozinho. Dantes, quando me punha a pensar no dia em que me enterrassem, a idéia do sepulcro estava unicamente unida a uma sensação de umidade e de frio. E assim era também agora, eu sentia muito frio, sobretudo nas pontas dos dedos, mas, além disso, não sentia mais nada.
Jazia no sepulcro e, coisa estranha... não esperava nada, pois aceitava sem contradição a idéia de que um morto nada tem que esperar. Mas aquilo estava muito úmido. Não sei, entretanto, que tempo teria decorrido: se uma hora, se alguns ou muitos dias. Quando, de repente... me vem bater no olho esquerdo, que tinha fechado, uma gotinha de água fria, que se tinha infiltrado pela tampa do caixão, decorreu um minuto e uma segunda gota me salpicou, depois uma terceira, e assim sucessivamente, sempre, de minuto em minuto. Isso produziu-me uma contrariedade violenta, e de repente senti uma dor física no coração. “É a ferida – pensei - , foi aí que a bala se alojou”. Mas o gotinha continuava a cair a cada minuto e sempre exatamente no meu olho esquerdo. E então gritei, não com a minha voz, visto que não podia fazer movimento algum, mas com todo o meu ser, para o autor de tudo aquilo que me sucedia:
- Ó quem quer que sejas, se é que existes e que há alguma coisa de mais razoável do que aquilo que me sucede, ordena-lhe também que imponha aqui o seu domínio. Mas se queres castigar-me pelo meu insensato suicídio com a insensatez de continuar a existir, fica sabendo que nada do que me esteja reservado pode comparar-me com o desprezo que eu sentirei em silêncio, ainda que a minha tortura e o meu martírio possam durar milhões de anos.
Gritei assim e depois calei-me. Teria durado perto de um minuto aquele profundo silêncio e, passado esse tempo, tornou a cair sobre o meu olho fechado a já costumada gota, mas eu sabia, sabia de um modo infinito e inquebrantável, que tudo iria mudar imediatamente. E eis que, de súbito, se abre o meu sepulcro. Isto é, eu não sei ao certo se me o teriam aberto, o certo é que um ser obscuro, e para mim desconhecido, se apoderou de mim, e partimos ambos para os espaços interplanetários. E de repente recuperei a vista, era noite, noite profunda, e nunca, nunca eu tinha visto obscuridade semelhante. Atravessamos os espaços siderais, já muito longe da Terra. Não fiz pergunta alguma ao meu condutor, esperava e sentia um orgulho imenso. Assegurei-me de que não tinha medo e quase desfalecia de gozo ao pensar que não o tinha. Não sei quanto tempo teríamos voado assim pelos espaços, nem consigo imaginá-lo bem, tudo aquilo aconteceu como costumam acontecer as coisas nos sonhos, ultrapassando as lei da razão, o espaço e o tempo, e ficando tudo limitado àquilo que o nosso coração sonha. Lembro-me de que, de súbito, no meio daquelas trevas divisei uma luzinha.
- Será Sírius? – perguntei-lhe contra minha vontade, pois não queria perguntar nada.
- Não, essa é a mesma estrelinha que tu viste entre as nuvens, quando voltavas para casa – respondeu-me o ser que me conduzia, e do qual eu sabia somente que tinha um rosto humano. Mas, coisa estranha: aquele ser não me era simpático e inspirava até uma profunda aversão. Eu tinha contado com o não-ser absoluto e, partindo dessa hipótese, tinha decidido suicidar-me. E agora me encontrava nos braços dum ser que não era, evidentemente, um ser humano, mas que nem por isso deixava de ser uma realidade, e era-o efetivamente.
“Portanto há uma vida depois da morte! – pensei eu com essa estranha rapidez daquele que dorme, se bem que a essência fundamental do meu coração conservasse em mim toda a sua profundidade. – Já que tenho de existir outra vez e outra vez tenho de viver, por mandato de não sei que vontade inapelável, não quero que ninguém me vença nem me humilhe!”.
- Tu sabes que eu tenho medo de ti e é por isso que me desprezas – disse de repente para o meu condutor. Não tinha podido conter-me e tinha-lhe feito a humilhante pergunta que trazia implícita a confissão, e sentia no meu coração a dor do meu vexame, como uma punhalada. O ser não respondeu à minha pergunta, mas senti subitamente que ele não me desprezava nem se ria de mim, e que nem sequer se apiedava, e que o nosso vôo tinha uma finalidade, uma meta desconhecida e misteriosa, e que só a mim interessava. E o temor cresceu no meu coração. Algo emanava do meu mudo condutor, em silêncio, mas dolorosamente, sobre mim, e me oprimia o coração. Atravessávamos obscuras e ignoradas esferas. Havia já muito tempo que tinham desaparecido da minha vista as constelações conhecidas. Eu sabia que nos espaços interplanetários há astros cujos raios de luz levam milhares e até milhões de anos a chegar à Terra. Mas é possível que tivéssemos percorrido já distâncias ainda maiores. Eu esperava não sabia o que, e a nostalgia torturava o meu coração. E, de súbito, surgiu em mim um sentimento conhecido, familiar, vi o Sol! Eu sabia que não podia ser o nosso Sol, o pai da nossa Terra, o que engendrou a nossa Terra, mas compreendi, em virtude não sei de que, com o meu ser, que aquele Sol era um Sol absolutamente como o nosso, que era a sua reprodução e o seu duplo. Um doce, animador sentimento encheu de prazer a minha alma, a preciosa, corpórea força da luz que me tinha engendrado, encontrou repercussão na minha alma e fê-la ressuscitar, e eu senti a vida, a vida de outrora, pela primeira vez depois do meu enterro.
- Visto que existe o Sol e é um Sol completamente igual ao nosso – exclamei -, onde está a Terra?
E o meu companheiro apontou-me uma estrelinha que despedia um brilho esmeraldino. Voávamos precisamente por cima por cima dela.
- Como é possível existirem no Universo tais cópias? Será essa, verdadeiramente, a lei do Universo? E, se esta é a Terra, diz-me: será uma Terra como a nossa... uma Terra também desditada e pobre, mas não menos apreciada e querida, que inspire o mesmo doloroso amor aos seus mais ingratos filhos, como a nossa Terra? – exclamei, tremendo com um amor arrebatado, audaz, irreprimível, por aquela Terra sagrada, a lôbrega e enxovalhada Terra que acabava de abandonar. E a figurinha da pequenina, que eu espantara com um grito, surgiu instantaneamente na minha memória.
- Hás de ver com os teus próprios olhos – respondeu o meu companheiro, e uma tristeza vibrava na sua voz.
Aproximávamo-nos velozmente do planeta. Este agigantava-se diante dos meus olhos, e eu podia já distinguir os oceanos, perceber depois os contornos da Europa, e, de repente, acordou no meu coração uma grande e sagrada inveja.
- Como poderia existir uma cópia, e qual a finalidade da sua existência? Eu amo e só posso amar essa Terra que acabo de deixar, na qual perduram ainda as gotas daquele sangue, que ingrato!, derramei ao desprender-me da vida. Mas nunca, nunca deixei de amar a nossa Terra, e talvez até aquela noite em que a abandonei tivesse sido o momento em que a amei mais apaixonada e dolorosamente! Existe também a dor nesta nova Terra? Será que, na nossa, só podemos viver com a dor ou graças a ela? Não sabemos amar de outro modo nem conhecemos outro amor. Eu quero dor para poder amar. Quero, sim, neste momento apenas anseio por poder beijar, banhado em lágrimas, a Terra que abandonei! E não quero, não aceito nenhuma outra vida senão a da nossa Terra!
Mas o meu companheiro já me tinha deixado. Tinha chegado, sem me ter apercebido, àquela outra Terra, à clara luz solar de um dia de paradisíaca beleza. Creio que me encontrava numa daquelas ilhas que formam o arquipélago helênico, se não era, porventura, algum ponto da costa que ali circunda o mar Egeu. Oh! Era tudo tal como entre nós, simplesmente tudo parecia encontrar-se numa disposição firme e resplandecer numa grande vitória, santa e finalmente conquistada. O mar suave, de um azul-escuro, batia suavemente contra o litoral e cingia-se contra ele com um imenso, visível e quase inconsciente amor. As árvores sombrias apareciam em todo o esplendor da floração, e estou convencido de que as suas folhas inumeráveis me davam as boas-vindas com o seu leve e amistoso sussurro, murmurando-me ignoradas palavras de amor. A relva ostentava uma verdura muito fresca e brilhante; os pássaros cruzavam em bandos pelo ar, e os passarinhos pousavam-me, sem ponta de medo, nos ombros e nos braços, e davam-me alegres pancadinhas com as suas asinhas trêmulas, e, finalmente, eu olhava e reconhecia também os homens daquela Terra feliz. As pessoas chegavam-se a mim espontaneamente; rodeavam-me e davam-me beijos. Eram filhos do Sol, filhos do seu Sol... Oh, e como eram bonitos! Nunca eu vi na nossa Terra homens tão belos. Quando muito poderemos encontrar nas crianças, nos seus mais tenros anos, um reflexo fraco e longínquo de semelhante formosura. Esses homens felizes tinham rostos claros e cheios de luz. No seu rosto transparecia a inteligência e um saber que, permita-se a expressão, parecia completo até à tranqüilidade, e, no entanto, esses rostos respiravam um alvoroço especial; tanto as palavras como a voz desses homens demonstravam uma alegria pueril. Oh, ao primeiro olhar que pousei naqueles rostos, compreendi logo tudo, tudo! Aquela era a Terra, a Terra não manchada pelo pecado original, na qual viviam homens que não tinham pecado, e viviam num Paraíso idêntico àquele em que, segundo todas as tradições da Humanidade, viveram os nossos primeiros pais antes da “queda”, sem a mínima diferença, a não ser que a Terra toda era, por todo lado, um só Paraíso. Aqueles homens aproximavam-se de mim com afetuosidade, sorriam-me e acariciavam-me; conduziam-me ao seu lar e todos se esforçavam, à porfia, por me tranqüilizarem. Oh!, não me faziam pergunta alguma; pareciam saber de tudo, e só ansiavam por afugentar, o mais depressa possível do meu rosto, todo vestígio de dor.
IV

AGORA VEJAM: admitamos que tudo isso foi apenas um sonho. Mas a sensação de amor, que aqueles homens belos e inocentes me demonstraram, perdura em mim através do tempo, e eu sinto como esse amor, já distante, tomba sobre mim. Vi-os, conheci-os, amei-os, e, mais tarde, sofri por eles. Oh! compreendo, e compreendi-o desde o primeiro instante, que eu não poderia entende-los em muitas coisas; parecia-me incompreensível, como parece aos progressistas russos contemporâneos e aos maus petersburgueses, o fato de, sabendo eles tanto como sabiam, não possuírem a nossa ciência. Mas não tardei a comprovar que a sua ciência se nutria de conhecimentos diferentes dos da Terra, e que as suas preocupações eram também de outra índole. Não tinham desejos; estavam tranqüilos e contentes; não aspiravam, tanto como nós, a conhecer a vida, pois a sua vida estava completamente preenchida. Mas o seu saber era mais fundo e elevado que a nossa ciência, porque a nossa ciência procura explicar a vida, pretende ser ela mesma a cimentá-la, para mostrar aos homens como devem viver, e isto compreendi-o eu, ao passo que eles já sabem como hão de viver, e isto percebo eu, ainda que não possa compreender a sua ciência. Mostravam-me eles as suas árvores, mas eu não podia sentir do mesmo modo que eles a grandeza do amor com que contemplavam: tal como se as tais árvores fossem homens. E vejam: pode ser que não me engane ao dizer que até falavam com elas. Sim, conheciam a sua língua e estou convencido de que as árvores os entendiam. E olhavam da mesma maneira todo o resto da Natureza e os animais que pacificamente viviam com eles, e, longe de atacá-los, amavam-nos, vencidos pelo seu amor. Apontavam para os outros e diziam-me qualquer coisa que eu não compreendia; mas estou convencido de que estavam em relações com as estrelas do Céu, não por meio do pensamento, mas de outro modo. Oh!, aqueles homens não se esforçavam para que eu os compreendesse; amavam-se sem necessidade disso; mas, além disso, eu sabia que tampouco eles me compreenderiam jamais, e por isso nunca lhes falei da nossa Terra. Limitava-me a beijar diante deles a Terra em que viviam, e a adorá-la, e eles viam isto e deixavam que eu o fizesse, sem dizerem nada, sem se envergonharem de que eu a amasse ao mesmo tempo que eles. Não sofriam por minha causa, quando, arrasado em pranto, lhes beijava os pés, pois sabia o amor com que me o pagavam. Às vezes perguntava a mim próprio, admirado: como poderiam eles ofender, uma vez que fosse, um homem como eu, ou como poderiam suscitar tampouco em mim um sentimento de inveja ou de ciúme? Às vezes perguntava também a mim próprio como é que eu, como se fosse um embusteiro e enganador, não lhes comunicava alguns dos meus conhecimentos, de que, naturalmente, não tinham a menor idéia, para faze-los cair no espanto, ou simplesmente por amor deles... Eram bonacheirões e joviais como crianças. Vagueavam por entre os seus bosquezinhos magníficos e floridas pradarias, entoando lindas canções, e sustentavam-se dos frutos das árvores e do leite dos animais que os acompanhavam. Preocupavam-se pouquíssimo com a alimentação e com o vestuário. O amor existia também entre eles e geravam filhos; mas nunca verifiquei que fossem vítimas desses arrebatamentos de cruel lascívia, que se apoderam de quase todos os homens desta nossa Terra, de todos, sem exceção de nenhum, e que constitui a única origem de quase todos os pecados da nossa humanidade. Alegravam-se com os recém-nascidos, como novos co-participantes da sua felicidade. Não conheciam nem a luta nem a inveja, e nem sequer sabiam o que isso fosse. Os filhos dos outros eram também seus filhos, pois formavam todos uma só família. Quase não tinham doenças, contando com a morte; e os seus velhos extinguiam-se suavemente, como se dormissem, rodeados dos seres queridos, deitando bênçãos, sorrindo e acompanhados pelos seus olhares claros e alegres.
Nunca vi dor nem lágrimas à cabeceira dum moribundo, mas um amor exaltado até ao êxtase, até um fervor tranqüilo e puro. Poder-se-ia quase acreditar que até depois da morte continuavam em comunicação com os seus mortos, e que ela não interrompia a sua vida terrena. Mal me compreendiam quando eu os interrogava acerca da vida eterna; mas, pelos vistos, estavam tão convencidos da sua existência que nem por um momento se lembravam de pô-la em dúvida. Não tinham templos, mas mantinham-se numa identificação vital com o Todo; não professavam crença alguma, mas possuíam a convicção de que, quando as suas alegrias terrenas tivessem alcançado os limites da natureza terrena, viria para todos eles, tanto para os vivos como para os mortos, um mais íntimo contato com o Todo. Aguardavam alegremente esse momento, mas não ansiavam por que chegasse nem sofriam por causa disso, tinham já como que o seu gozo antecipado na sua alma, e comunicavam-no entre si uns aos outros. À noite, antes de adormecerem, cantavam em coros harmoniosos. Exprimiam nessas canções vespertinas os sentimentos que experimentavam durante o dia, e gabavam e estimavam o dia que tinha passado, despedindo-se dele. Louvavam a Natureza, a Terra, o mar e os bosques. Louvavam-se e elogiavam-se mutuamente nas suas canções, da mesma maneira que se louvam as crianças; as suas canções eram singelas, mas punham nelas o seu coração e aos corações elas chegavam. E não só nas suas canções, mas na sua vida toda, não faziam outra coisa senão amarem-se uns aos outros. Era, na verdade, uma vida de amor recíproco, uma vida grande, universal amor. Mas alguns dos seus cânticos, que tinham uma expressão triunfal e inspirada, não consegui compreende-los. Por mais que entendesse a sua letra, não podia penetrar todo o seu sentido. Eram intangíveis para a minha razão, ainda que cada vez penetrassem mais fundo no meu coração, sem que eu pudesse aperceber-me do que se passava. Costumava dizer-lhes que já anteriormente eu tinha adivinhado tudo aquilo; que já na nossa Terra o pressentimento de toda aquela aventura, daquele jubiloso cântico de louvor, me tinha feito experimentar um entusiasmo estéril e às vezes excessivo; que tudo aquilo eu o tinha visto já nos sonhos da minha alma e nos meus sentidos; que lá longe, na nossa Terra, por mais de uma vez me arrancara lágrimas o pôr do Sol; que sempre tinha havido dor no meu ódio aos homens da nossa Terra. Por que não podia eu odiá-los, visto que não os amava; por que não podia perdoar-lhes, por que me fazia sofrer amá-los, por que podia amá-los odiando? Eles me escutavam, e eu via claramente que não podiam imaginar nada disto, mas não me arrependia de ter-lhes falado nessas coisas; sabia que eles compreendiam todo o poder da minha nostalgia por aqueles a quem tinha abandonado. Sim, quando eu sentia pousar-se em mim o seu diáfano e aprazível olhar, trespassado de amor, sentia como entre eles também o meu coração se tornava puro e inocente como o seu, não lamentava não poder entende-los. Faltava-me o alento, por sentir tão intensamente a plenitude da vida, e ficava em silêncio adorando-os.
Oh! toda a gente se ri agora na minha cara e me afirma que não pode ver-se nada semelhante ao que estou descrevendo; que, no meu sonho, mais não fiz do que experimentar um sentimento elaborado pelo meu próprio coração e que todos esses pormenores os devia ter arquitetado depois, já desperto. E quando concordei e disse que podia ser que tivessem razão... sabe Deus as gargalhadas, a hilaridade que as minhas palavras provocavam. Naturalmente, eu estava apenas dominado pelo sentimento do sonho, e só este único sentimento perdurava no meu coração, que sangrava. Mas, além disso, as visões e as figuras reais do meu sonho, isto é, aquelas que eu vira precisamente durante a hora do meu sonho, conservavam entre si tal harmonia, eram tão perfeitas, tão encantadoras, sedutoras e belas, que, ao acordar, como é natural, não era capaz de tornar a dar-lhes vida na nossa pobre linguagem. Por isso tiveram, naturalmente, que empalidecer na minha consciência e desvanecerem-se, e talvez por isso me sentisse realmente obrigado a imaginar depois inconscientemente os pormenores, aos quais teria encomendado decididamente a missão de reproduzir, dado o meu apaixonado desejo, que era, de certo modo pelo menos, o sentimento principal. Mas, no entanto, por que não acreditar que tudo foi real? Pode ser que fosse mil vezes melhor, mais radiante e belo do que eu descrevo. Pode ser que fosse um sonho, mas não é possível que o fosse completamente. Olhem, vou confiar-lhes um segredo: talvez tudo isso nem sequer de longe fosse um sonho. Pois sucedeu nisto algo do gênero, algo tão real até à saturação, que uma pessoa nem sequer teria podido sonha-lo! Pode ser que fosse a minha alma que engendrasse esse sonho; mas como poderia ela ter engendrado sozinha essa terrível verdade que eu senti mais tarde? Como teria podido eu imagina-la ou sonha-la o meu coração sozinho? Seria possível que o meu insignificante coraçãozinho e a minha humilde e caprichosa razão tivessem podido ascender a semelhante revelação da verdade? Oh!, julguem os senhores por si mesmos; até este momento não falei no caso, mas agora vou dizer a verdade toda.
A conclusão foi eu ter.... estragado tudo aquilo.
V

SIM, SIM; a conclusão foi eu ter estragado tudo. Como isso foi... é que eu não sei. Já não me lembro como é que sucedeu. O sonho durou milhares de anos e apenas me deixou uma impressão de conjunto... Só me lembro de que a queda do pecado original fui eu. Como uma espantosa trinquina, qual pestífero bacilo que devasta a Terra, assim devastei eu toda aquela Terra inocente e feliz. Aqueles homens aprenderam a mentir, tomaram gosto à mentira e reconheceram como eram belos. Oh!, pode ser que, a princípio, o fizessem inocentemente, por puro jogo, por diversão, que apenas se tratasse de um bacilo; mas este átomo de mentira enraizou-se nos seus corações e foi do seu agrado. Não tardou que dele derivassem a voluptuosidade, e esta voluptuosidade engendrou a inveja, e esta, a crueldade. Oh!, não sei, não me lembro já como, mas não tardou que se vertesse a primeira gota de sangue; a princípio apenas sentiram espanto; mas depois assustaram-se e começaram a afastar-se uns dos outros. Vieram as censuras e as incriminações. Conheceram a vergonha e erigiram-na em virtude. Surgiu o conceito da honra e cada bando se uniu à sombra da sua bandeira. Começaram a torturar os animais, e os animais afastaram-se deles, foram ocultar-se nos bosques e tornaram-se seus inimigos. Iniciou-se a luta pela separação, pela particularização, pela personalidade, pelo “teu” e pelo “meu”. Começaram a falar várias línguas. Conheceram a dor e tomaram-lhe o gosto; ansiavam pelo sofrimento e diziam que a verdade só se comprava pelo preço do martírio. Depois surgiu a ciência. Como se tinham tornado maus, deram em falar de fraternidade e de humanidade, e compreendiam estas idéias. Como se tinham tornado criminosos, inventaram a justiça e redigiram códigos para a encerrarem neles, e, para assegurar o cumprimento desses códigos, ergueram a guilhotina. Mal se recordavam daquilo que tinham perdido e não queriam acreditar que alguma vez tivessem sido inocentes e felizes. Riam-se até da possibilidade dessa sua felicidade passada e tachavam-na de sonho fantástico. Nem sequer podiam fazer uma idéia desse estado, e acontecia, além disso, uma coisa estranha: agora que tinham perdido toda a fé na felicidade pretérita e a classificavam de fantasia, empenhavam-se a tal ponto a voltar a ser inocentes e felizes que se ajoelhavam como crianças ante os desejos dos seus corações; adoravam esses desejos, erguiam-lhes templos e oravam à sua própria idéia, ao seu próprio “querer”, ao mesmo tempo que continuavam a acreditar, com uma convicção inabalável, na possibilidade de cumprirem e realizar essa idéia, apenas de implorarem por ela de joelhos. E, no entanto... se pudesse ter-se dado o caso de voltarem outra vez àquele inocente e venturoso estado que perderam; se alguém os tivesse consultado, perguntando-lhes: “Quereis voltar a ele?”, ter-lhes-iam respondido resolutamente que não. A mim diziam-me: “Bom, seremos mentirosos, maus e injustos; sabemo-lo e lamentamo-lo, e essa é a nossa tortura, e talvez por isso nos atormentemos e castiguemos mais do que faria esse Juiz misericordioso que há de julgar-nos no futuro, mas cujo nome nos é desconhecido. Mas, em compensação, possuímos a ciência, e graças a ela havemos de tornar a encontrar a verdade, e então aceitá-la-emos já com consciência. O saber está acima do sentimento; o conhecimento da vida... acima da própria vida. A ciência far-nos-á oniscientes; a onisciência conhece todas as leis, e o conhecimento da lei da felicidade.... está acima da própria felicidade.” Eram assim que eles me falavam, e, a avaliar por tais palavras, cada um deles se tornaram mais apreciador de si mesmo que dos outros; se tinha valorizado a si mesmo mais de que tudo no mundo; sim... e não poderia ter sido de outro modo. Tornaram-se todos tão ciosos do seu eu que cada um se afanava por rebaixar, oprimir e diminuir o eu do próximo, por todos os meios possíveis, e só nisto se resumia a sua vida. Desenvolveu-se a escravatura e surgiram até escravos voluntários; os fracos submeteram-se com gosto aos mais fortes, mas com a condição de que estes os ajudassem a subjugar os mais fracos do que eles. Surgiram entre eles profetas que lhes falavam do seu orgulho chorando, da perda da medida e da harmonia do sentimento do pudor. Mas eles riam-se e troçavam desses profetas e acabavam por lapidá-los. Sangue sagrado correu sobre os umbrais do templo. Mas também havia homens que começaram a discutir a maneira de voltar a uni-los a todos, sem que deixassem, entretanto, de querer a si mesmos mais que a ninguém, nem prejudicar aos outros, para que todos tornassem, assim, a viver em comum, formando uma só amistosa e concorde sociedade. Esta idéia foi, entre eles, causa de grandes guerras. Todos os beligerantes acreditavam ao mesmo tempo que a ciência, a onisciência e o instinto da própria conservação obrigariam finalmente os homens a unirem-se numa sociedade razoável e cordata, para o que, no entanto, se esforçavam os “oniscientes”, a fim de acelerar as coisas, por exterminar todos os não oniscientes e a quantos não compreendiam a sua idéia, a fim de que não fossem um obstáculo para o seu triunfo. Mas não tardou que diminuísse o sentimento geral da própria conservação e surgissem voluptuosos e soberbos que proclamavam abertamente que desejavam tudo ou nada. Registraram-se proezas de todo gênero, e, quando não conseguiam nada com elas... restava o recurso do suicídio. Houve religiões consagradas ao culto do não-ser e do próprio aniquilamento, em honra do eterno repouso em o nada. Até que, por fim, aqueles homens se cansaram dos seus absurdos esforços e nos seus rostos se refletiu a dor, e proclamaram: a dor é beleza, pois só a dor tem sentido. E cantaram a dor nos seus poemas. Eu andava numa agitação entre eles, torcia as mãos e chorava; mas amava-os, no entanto, e talvez mais do que antes, quando no seu rosto não assomava ainda nenhuma dor e eram belos e inocentes. A Terra por eles manchada parecia-me então mais valiosa do que antes, quando era um paraíso, e isso apenas porque nela aparecera a dor. Oh, eu sempre amei a dor e a tristeza, mas só para mim, só para mim! Mas, como agora sofriam eles também, chorava de compaixão. Estendia-lhes as minhas mãos e, no meu desespero, acusava-me, amaldiçoava-me e desprezava-me a mim próprio. Dizia-lhes que tudo aquilo era obra minha; que eu, apenas eu e mais ninguém, é que tinha a culpa de tudo. Que eu lhes tinha levado a corrupção, a peste e a mentira. Pedia-lhes que me crucificassem, ensinava-lhes a armar uma cruz e a levanta-la. Eu não me podia matar a mim mesmo; não tinha coragem para faze-lo; mas queria sofrer o tormento pelas mãos, suspirava por derramar o meu sangue até à última gota no suplício. Mas eles não faziam mais do que rir-se de mim, acabando por dizer que eu era um doido acabado. Até me defendiam, dizendo que não tinham, agora, mais do que aquilo que tinham desejado, e que tudo isso acontecera porque tinha, fatalmente, de acontecer. E por fim declararam que eu constituía um perigo para eles, e que, portanto, tinham resolvido encerrar-me num manicômio, se não desistisse das minhas prédicas. Quando os ouvi dizer isto, foi tão grande a dor que me trespassou a alma que o meu coração se confrangeu e eu me senti morrer, e... foi então que despertei do meu sonho.
*
Era já manhã; o sol ainda não se tinha erguido, eram seis da manhã. Acordei na minha poltrona; a luz tinha-se extinguido completamente; no quarto contíguo dormiam o capitão e a sua gente, e na casa reinava um estranho silêncio. A princípio estremeci, assombrado; nunca me tinha acontecido nada de semelhante; até as coisas pequenas me impressionavam; por exemplo, jamais adormecera dessa maneira, na poltrona. E depois... enquanto me punha de pé e acabava de despertar, fixei de repente a vista no revólver, no revólver carregado, mas no mesmo instante atirei-o para longe. Oh, vida, grande e sagrada vida! Abri os braços e invoquei a verdade eterna; soluçava; entusiasmo, um entusiasmo incomensurável enchia todo o meu ser. Sim, vida e ... anunciação! A anunciação ficou decidida para mim naquele mesmo instante... decidida para toda a minha vida. Irei, irei e anunciarei! O que?... A verdade, uma vez que a vi, que a vi com meus próprios olhos, e reconheci toda a sua magnificência!
E desde então anuncio a boa nova!... Amo-os a todos, e, mais que a ninguém, aqueles que se riem de mim. Por que amo mais a estes? Não sei, nem tampouco posso explica-lo, mas é assim. Dizem que estou enganado... Mas, se agora estou enganado, como será mais para diante? Sim, é provável que tenham razão; estou enganado e quanto mais estiver, talvez seja pior. Provavelmente ainda incorrerei em erro com freqüência, até aprender como é que se deve predicar, isto é, com que palavras e com que atos, pois é difícil sabe-lo. Agora já é para mim tão claro como a luz; mas escutem uma coisa: quem é que não erra? E, no entanto, todos se afadigam por um mesmo objeto; todos, desde o sábio ao último criminoso, simplesmente procedem de maneira diversa. É esta uma verdade já velha; mas eis aqui outra nova: eu não posso enganar-me, assim, tanto. Pois eu vi a verdade, sei-o; os homens podem tornar-se belos e felizes sem que, para isso, tenham de deixar de viver na Terra. Eu não quero nem posso crer que a maldade seja o estado normal do homem. Mas eles troçam desta minha crença. Não acreditam em mim! Eu vi a verdade! Não que a tenha descoberto com a minha inteligência, não: vi-a, o que se chama ver, e o seu rosto vivo preencheu a minha alma para toda a eternidade. Vi-a numa integridade tão completa que... como poderia acreditar agora que essa verdade não possa existir também entre os homens? E como, como poderia eu estar enganado? Talvez ande um pouco desorientado, é possível também que empregue palavras estranhas mas isso não deve durar muito; a imagem viva do que vi viverá em mim eternamente e servir-me-á de norte e de guia. Oh!, eu estou muito contente e esperançado, e não me cansarei de andar, ainda que peregrine durante mil anos. Olhem: a princípio, queria esconder de vós que tinha sido o causador da sua perdição; mas isso teria sido falta da minha parte... pois assim tínhamos já a primeira culpa. Mas a verdade dizia-me ao ouvido que eu mentia, salvava-me do erro e dirigiu-me para o caminho reto. Mas não consegui saber como é que alcançaram o Paraíso, pois não consigo exprimi-lo por palavras. Perdi as palavras no sonho. Pelo menos todas as palavras necessárias, as mais precisas. Mas isso não importa; eu caminharei por esses mundos e anunciarei a boa nova, uma vez que vi com os meus próprios olhos, ainda que não possa exprimir o que vi. Mas é isto precisamente que não podem compreender os trocistas. “Teve um sonho, como ele próprio diz; um delírio febril, uma alucinação.” Ah! Isso é sensato? E ficam todos inchados. Um sonho? Mas que é um sonho? Não será a nossa vida um sonho? Esperem, que vou dizer-vos ainda mais. Bem, admitamos que isso nunca venha a realizar-se e que este paraíso não chegue nunca a ser uma realidade (eu próprio admito isto!); bem, pois, apesar de tudo, continuarei anunciando a boa nova. E, no entanto, como isso seria simples! Num dia, numa só hora, tudo mudaria. Ama a Humanidade como a ti mesmo! Isto é tudo; isto é tudo e nada mais é preciso; saberás depois como hás de viver. E, além disso, só há uma verdade... uma verdade antiga, antiqüíssima, mas que é preciso repetir uma e mil vezes, e que até agora não se arraigou nos nossos corações. O conhecimento da vida está acima da vida; o conhecimento da lei da felicidade... está acima da própria felicidade... Eis aí aquilo contra que se deve lutar. E eu lutarei contra isso! Se todos quisessem, tudo mudaria sobre a Terra num momento.
Mas ando ainda à procura daquela jovenzinha... E continuo, continuo....

FIM

sábado, 15 de agosto de 2009

Stumme Worte

Cara, não escrevo nada (nem aqui nem alhures) faz muiiiiiiiiiiiiiiiito tempo. Estou com receio de ter virado analfabeta funcional. Será que emburreci? Espero que não, mas não sei.. eu ando tão sem saber o que falar.
Na verdade, o mundo é meio chocante demais quando se presta atenção a ele e eu estou tentando não prestar muita, ou fingir que não é comigo, especialmente quando a coisa é ruim.
Acho que eu estou em uma "férias mental".. não consigo nem manter uma leitura direito. Nem direito Direito. ¬¬
Fazer o que né? Às vezes, é bom ter um recesso.

domingo, 19 de julho de 2009

29 anos






Pois é... sou quase uma balzaquiana.
29 anos.. agora fico pensando como serão os 30, os 40.. (ainda não ouso pensar nos 50). Claro que sei que é preciptação, mas é difícil não pensar. Ainda mais que, aos 20, eu não me imaginava com 30 heheh que coisa ¬¬
Mas a comemoração foi ótima.
Fui para Bauru e adorei a cidade. É milhões de vezes melhor que essa roça. Aliás, entrou na minha lista de candidatas pré-SP. Junto a ela, estão Rio Preto, Sorocaba e Araraquara. São as possíveis primeiras escalas. ;)
Duas coisas se destacaram no fim de semana, primeiro o filme em 3-D... para mim, foi total novidade e eu adorei! É muiiiiiiiiiiiiito gostoso assistir algo em 3-D. Fiquei super encantada. Além do que era a Era do Gelo III e acho esse filme uma gracinha. Segundo, foi a balada. Especial Michael Jackson na DOLCE.. ainda rolou anos 60, 70 e 80... Duran Duran, Cindy Lauper, Nick Cave, Cure, Madona, Smiths, Depeche Mode, Guns and Roses, Kiss, Queen, ABBA, Elvis, Beatles.. me acabei de dançar. Desde que sai de SP, em 2003, nunca mais tinha ido a uma balada tão boa! Muiiiiiiiiiiiiiito gostoso, fiquei muito feliz. Agora estou levemente sem pescoço e sem joelho. Ainda fui incorporar o Axl Rose quando começou a tocar Sweet child o mine... então imagina né?
Para completar o fim de semana maravilhoso, estava acompanhada de pessoas muito queridas. Faltou meu irmão lindo, o Thi. Bateu uma saudade dele.
Também queria que meu amor estivesse lá.. mas eu o verei ainda essa semana :)
Estou muito feliz, muito mesmo.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Ao amanhecer..


Bom, agora são 7h29... ainda não está nem na hora de começar o trabalho, mas já estou por aqui.. então, aproveitarei o tempo para fazer alguns comentários óbvios, mas, nem por isso, pouco preocupantes..

O primeiro, na verdade, é mais um conselho: se você não quiser se deprimir logo cedo, sugiro que evite assistir ao jornais matinais, assim você se poupa de tomar ciência de vários assassinatos, assaltos, pessoas morrendo carbonizadas, outras fugindo de um carro posto em chamas por assaltantes, ou, ainda, evita ficar sabendo de carro ficando "atolado" em uma das entradas do metro Ana Rosa (super animador isso, hein?!).
Os outros comentários são observações bobas e, como já disse, óbvias. Lá vão...
Ontem, pela primeira vez, tive a pachorra de assistir a alguns minutos (acho que uns 20) daquele programa Pânico. Eu já sabia que era ruim, mas, sinceramente, fiquei abismada! Primeiro que as mulheres que participam dele, lideradas pela "fofa" da Sabrina Sato, são no mínimo uma vergonha para as mulheres providas de um pouco de massa encefálica. Não que eu tenha algo contra mulheres bonitas e gostosonas semi nuas... mas fá favô né? Pô, é degradante demais!! Não conseguem nem chegar ao nível da Emannuelle! Enfim, ai teve toda uma sequência de, como poderia dizer, quadros (?) que pretendem ser cômicos, mas que deprimem viu.. ô comédia estúpida, se é que eu poderia usar o termo comédia, coitados dos gregos.. enfim, sugiro que qualquer pessoa que preze o resto de esperança que ainda possui na humanidade não assista a esse programa. Mas, se levarmos em conta o país no qual vivemos, não poderíamos esperar outra coisa né? (e ainda se esse programa fosse a única aberração...). Afinal, o Brasil é um grande felizardo. Temos os políticos mais corruptos (tá, alguns paises competem para esse título em pé de igualdade) que uma nação poderia "desejar" (vide o Senado, que é a bola da vez midiática - obs importante: não que ele seja o único caso absurdo na política brasileira contemporânea, mas, sem dúvida, é o que a mídia elegeu como alvo por algumas semanas, até ser esquecido e passar em brancas nuvens, assim ela tem uma desculpa para não tocar em muitos outros casos semelhantes, ou piores, não só na política)... também temos um deputado (é deputado né?) que conseguiu construir um castelo (que ainda é feio) com o dinheiro público e (pasmem!) ficou livre de qualquer punição! Não é divertido?? Eu achei, supeeeeeeeeeeeeeer divertido! Além disso, ainda tivemos que ouvir um colega de "profissão" desse nobre senhor dizer que não só não dá a miníma para a opinião pública mas que, também, seu companheiro (que aliás deve ter se tornado seu ídolo) deveria andar de pescoço erguido, assim como ele próprio o faz e ainda garantiu, ao seu ilustre colega, que tem a certeza absoluta de que será reeleito, como prova indubitável de que ele possui A Razão. Mais uma vez, suuuuuuuuuuuuuuuuper legal! ¬¬
E o pior, se é que existe grau entre o que é pior (deve existir o "pior pior") é que está tudo muito bem e tudo muito bom e a população se diverte assistindo ao Pânico e acha muito normal uma anta quadrada (com todo o respeito às antas, que são animais muito dóceis e fofos) como o Gugu Liberato assinar um contrato com a Record, a qual irá lhe pagar a bagatela mensal de 3 milhões de reais! O que eu acho super justo, inclusive! Afinal, ele merece né? E aí de quem disser que não!
Bom, disso eu creio poder concluir que cada um nasce no país que merece, tem os políticos que merece e a mídia que merece! (incluo-me nisso)
Poxa, será que a Globo me contrata como comentarista? Afinal, já não é necessário ter diploma pra fazer jornalismo... o que, vendo bem, não deve mudar muita coisa, via de regra, porque pior do que está deve ser difícil ficar (difícil não quer dizer impossível), afinal, ter um diploma universitário nunca foi sinônimo de ser um bom profissional na área em que se formou né? Porque, se fosse sinônimo, acho que as coisas não seriam tão trash (e não só no jornalismo, viu).
Como já dizia o Metallica, quando ainda faziam músicas que prestavam (só para ficar na área do thrash), é sad but true. ¬¬
Como diria minha amiga Renata: "Medo Brasil!"


E ainda são 7h49...

sábado, 11 de julho de 2009

Miséria

Bah... a vida de muitas pessoas é tão pobre em boas expectativas, tão vazia de esperanças, que, ao receberem a menor migalha de atenção, mesmo que meio duvidosa quanto à sua veracidade, elas se sentem as maiores felizardas do planeta..
Foi isso que aconteceu com o pessoal de Gana devido à visita do Obama... como se houvesse um paralelo real entre a vida deles e a dele. Só porque ele é negro e porque o tataravo, ou coisa do tipo, dele foi escravo isso não significa que ele tenha algo em comum com os povos das nações que os Estados Unidos e o resto do mundo levaram ao estado miserável em que se encontram..
Hipocrisia.
¬¬

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Just smile...

Smile

Composição: Charles Chaplin

Smile,
Tough your heart is aching
Smile,
Even though it's breaking,
When there are clouds in the sky, you'll get by
If you smile
Through your fears and sorrow, smile
And maybe tomorrow
You'll see the sun come shining through for you.
Light up your face with gladness,
Hide ev'ry trace of sadness,
Altho' a tear may be ever so near,
That's the time you must keep on trying,
Smile,
What's the use of crying,
You'll find that life is still worhwhile,
If you just smile.

http://www.youtube.com/watch?v=iu-rLA4POkI&feature=related

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Homenagem a você

Você merece mais do que isso... mas é uma homenagem singela, certamente, a primeira de muitas. Lindo :*

Blind in darkness - DoD

I will plaster all you mortals with my dominating guts
I will torment revelations - I did never ask for much
I will taste the detonation while the geminis go wild
I'll absorb the human sigh, eradicate your dormant lie

Does it suck your breasts for milk, golden honey, dressed in silk
Does it feel your patient care in your dreadful glassy stare
or does it feel your true emotions in its scars and bruises burn
Do you really think your lies will tear open cloudy skies?

Feel my fingers in your wound while my eyes ascend the gloom
Questions wasting all my time - I see your eyes detesting mine
Sick of a life you never had, in dead motion, you look so sad
I could care less if I'd like - I let you go into the night

Is my ignorance my fate, or is my love distorted hate
Is deliverance my mate or am I sleeping while awake
Is this place that we call home adorned by devastating foam
Am I mortal, am I god - Am I brighter than you thought?

I will never beg for mercy - I will never kiss your feet
I will never ask forgiveness and all of that I want to keep!
I will guide the blind in darkness though I cannot see myself
I will whisper in a deaf ear while I know you cannot speak

And I hear rumours about angels...


She and Her Darkness - DoD


My heart weights minimum a tone
An army's feet pounding on my head
Maybe I'll wake up one day to notice
that all my life was just a dream...

And maybe I'll be better off without you
You left me here with all my thoughts
I'd write a zillion words or walk a million miles
I'd sleep on broken glass just not to lose your smiles

I travel for you around the world
Collecting moments, o how absurd
To bring you beauty, to bring you joy
I wish I'd be a little boy

Where is that silence you primised me?
Why is that distance so close to me?
Why is your violence still hurting me?
Why are your eyes avoiding me?

Let me say thank you for all that you have given me.
Thank you for everything you've done.
Forgive me for saying one last thing:
I miss you and I hope you hear this song!

I travel for you around the world
Collecting moments, o how absurd
To bring you beauty, to bring you joy
I wish I'd be a little boy

I'm dying for you, can't you see?
I'm lying for you to be free!
I hunger for you, 'cause I can't eat!
I'd vanish for you in defeat!

domingo, 21 de junho de 2009

Minhas primeiras impressões de Os Sonhadores











São 3 horas da manhã, madrugada de domingo para segunda.




Eu ia deixar para escrever ao acordar, mas a cena final, ou melhor, a música final, fez-me vencer o sono e o bom senso que me diz já estar tarde.. talvez, muito tarde para a classe operária que não vai ao paraíso.




Acabei, nesse quase instante, de assistir "Os Sonhadores" do Bertolucci.




O que me fez vir aqui, agora, e não ao acordar, foi o final... embora o filme todo seja perfeito. Uma verdadeira obra prima sobre amor, fidelidade, compreensão, incompreensão, uma ode ao cinema, uma ode à Arte.




Eu já comecei apaixonada pelo filme. Um filme para amantes do cinema, um filme de amantes do cinema. O tempo todo remissões a grandes obras da Sétima Arte.. o tempo todo: Garbo, Chaplin, Godard, Truffaut...




Fez-me descobrir que a Cinémathèque Française é em um palácio... não sabia. O filme praticamente começa com a seguinte frase "só os franceses para fazerem um teatro em um palácio".. de fato, só eles. E só um gênio do cinema, como o Bertolucci, para fazer um filme perfeito.




A seguir, vem uma cena belíssima da Eva Green, parecendo uma musa francesa (acho que ela já o é), "amarrada" a uma grade, durante manifestações contra a demissão de Langlois, fundador da Cinémathèque, pelo governo francês pré 68... e, a partir, dai são sequências belíssimas, fotografias belíssimas, remissões a clássicos, interpretações perfeitas dos três atores principais, especialmente a Eva Green, linda, encantadora.




Em certo momento do filme, o espectador começa a pensar, maliciosamente, sugerido por certos indícios, que os dois personagens irmãos mantêm uma relação incestuosa.. esse pensamento é "confirmado" pela visão do outro personagem, amigo dos irmãos, que vai se hospedar na casa deles (um moço americano que fora estudar em Paris)... convencemo-nos de que isso é fato para, depois, percebermos que não o é.. ela era virgem, apesar de toda a aparência de boemia francesa.




É muito interessante como eu me vi "pega no ato", pega em flagrante diante dos meus pre-julgamentos.. foi engraçado, um leve esbofetear nos preconceitos imbutidos, contra os quais luto tanto. Mas, depois, percebe-se que a relação entre os irmãos gêmeos, um homem e uma mulher, é bem mais complexa, envolve amor, comprometimento, afinidade, cumplicidade, sintonia e uma absoluta dependência. Eles mesmos dizem que são duas metades de uma mesma pessoa. Eles não o percebem, mas claro que isso não é saudável (será?) e o amigo do casal de irmãos, que por sua vez se enamora da moça, o diz algumas vezes.. mas a verdade é sempre dolorida.




É contrastante: os irmãos franceses são a Emoção, a Intelectualidade, o Idealismo, a Utopia; o americano é a Inteligência racional, a Lucidez, a Razão do trio, é a voz da Consciência e do Bom Senso. A voz indesejada aos Sonhadores.




O filme é belo.




Mas, como disse, o que me fez escrever aqui foi o final.




O confronto entre os manifestantes e a polícia francesa termina com a imagem dos irmãos indo de encontro à tropa e lançando um coquetel molotov contra os políciais, enquanto esses correm em direção aos manifestantes, com suas armas e escudos em mãos (escudos ficou medieval não? batalhas são antigas, de fato). Mas o que tocou minha sensibilidade foi a música.. a tomada final começa com os acordes inesquecíveis de Non Je ne regrette rien. Eu identifiquei logo na primeira nota. Essa música e a Piaf têm uma história para mim, embora isso já não importe, o que importa é que eu amo essa música e amo a Piaf, ela é magnífica. E quando ela começa a cantar... nossa, eu senti meus olhos marejarem. Foi inesperado e belo. Foi o final perfeito, com a música perfeita, da melhor cantora francesa de todos os tempos, para um filme perfeito.
Belíssimo.




Perfeito.




Bela filosofia egoísta e racionalista hehe... mas tô concordando com ela nos últimos tempos.

Cowboy Fora Da Lei

Composição: Cláudio Roberto / Raul Seixas

Mamãe, não quero ser prefeito
Pode ser que eu seja eleito
E alguém pode querer me assassinar
Eu não preciso ler jornais
Mentir sozinho eu sou capaz
Não quero ir de encontro ao azar
Papai não quero provar nada
Eu já servi à Pátria amada
E todo mundo cobra minha luz
Oh, coitado, foi tão cedo
Deus me livre, eu tenho medo
Morrer dependurado numa cruz
Eu não sou besta pra tirar onda de herói
Sou vacinado, eu sou cowboy
Cowboy fora da lei
Durango Kid só existe no gibi
E quem quiser que fique aqui
Entrar pra historia é com vocês!