sábado, 7 de novembro de 2009

Assim caminha a humanidade.

Já fazem uns dias que tenho pensado muito sobre vários assuntos e que desejo escrever algumas coisas aqui a respeito dos mesmos. Mas esse "algumas" coisas, na realidade, engloba "muita" coisa. Então, de duas, uma: ou eu escreverei um texto gigantesco ou eu esquecerei metade do que gostaria de falar e o texto ficará minúsculo. Vamos ver qual dessas possibilidades se concretiza.
Eu tenho pensado razoavelmente bastante no impacto causado pelo ser humano no planeta e, em especial, no que eu tenho feito ou deixado de fazer e que contribui para agravar tudo o que já está acontecendo.
Claro que eu sei que minhas ações individuais não têm, de fato, grande impacto... mas o problema não são minhas ações dentro de minha microrrealidade e, sim, minhas ações somadas às ações da grande maioria da população humana. É quando olhamos nossas atitudes sobre um prisma mais abrangente que conseguimos perceber, com grande nitidez, o quanto o ser humano se tornou a espécie mais nociva em toda a Natureza, a que mais destrói, a que mais causa sofrimento, tanto para si e seus semelhantes, quanto para as outras espécies, a que mais foi capaz de causar inúmeros danos em um período minímo de tempo...
Basta se informar e observar a quantidade imensa de espécies animais e vegetais que foram extintas ou que estão na lista de espécies em extinção, ou, ainda, observar o aquecimento global (que tem se mostrado desagradavelmente paupável já nos dias atuais), os desmatamentos, a poluição, os genocídios em nome de crenças, dogmas, religiões, ideologias, moral, etc.. melhor parar por aqui, pois a lista de danos planetários é imensa.
Entretanto, também, não quero fazer o papel daquela chata utópica ou, nas piores hipóteses, moralista, que fica apontando os defeitos do mundo e julgando tudo o que acontece com um ar de superioridade.
Eu reconheço que sou fraca e que fiz, e tenho feito, muito pouco para ajudar a reverter essa situação. Não sou mais, ou pelo menos não era mais, até hoje a tarde, aquilo que mais me causava orgulho: o fato de eu ter sido vegetariana e de ter me mantido assim por 14 anos. Porém, faz 1 ano e 1 mês, precisamente quase, que eu tive uma grande recaída e que comecei a comer carne novamente. Eu só me mantive comendo, durante esse período, porque eu deixei de pensar a respeito, ou melhor, toda vez que essa questão vinha à mente, eu a ignorava. Desenvolvi uma barreira aos pensamentos relacionados ao sofrimento animal, ao desrespeito à vida, de uma forma geral, ao desrespeito ao meu próprio organismo, entre outras coisas. E só graças a isso tenho conseguido viver dessa forma.
Porém, hoje me aconteceu algo que torço para ter sido decisivo na minha vontade de retornar ao meu vegetarianismo, no mínimo, embora só isso não seja ideal: estava almoçando com uma amiga, ironicamente, comíamos picanha com batatas, e começamos a conversar exatamente sobre essas questões relacionadas aos animais, aos seres humanos, ao planeta. Sei que parece totalmente absurdo (e até o é) e que é muito contraditório o que fazíamos e o que falávamos concomitantemente... comer carne, confortavelmente sentadas em um restaurante, enquanto se discute o caos mundial é, no mínimo, ridículo, mas não era hipocrisia, nem minha, nem dela.
No entanto, tive um segundo, literalmente, em que tive ciência, de forma impossível de ser negada, de que aquilo que estava mastigando era um animal, ou melhor, era um cadáver de um animal e de que eu estava sendo asquerosa naquele momento (pelo menos perante a aquilo que considero importante para minha saúde emocional e mental, no mínimo). Eu mal consegui engolir o pedaço de carne que tinha na boca, desceu praticamente engasgado, mas desceu, (na hora achei que seria pior tirá-lo da boca, mas, agora, tenho minhas dúvidas). Depois disso, não consegui comer o restante. A "sorte" é que faltava pouco, porque, do contrário, além de todo o absurdo que era ter matado um animal para comer, teria o absurdo ainda maior de jogar o corpo dele no lixo.. está certo que isso aconteceu, mas foi pouco e foi porque eu realmente não consegui comer mais.
Senti nojo de mim mesma.
Não quero fazer apologias a isso ou a aquilo. Mas se alguém parar para pensar e, a partir de então, rever os comportamentos que tem habitualmente graças a algo que leu aqui, eu ficaria muito feliz.
O pior é que eu me detive no aspecto do vegetarianismo motivado pelo respeito ao outro ser vivo.
Porém, o problema vai muito além disso: há as consequências prejudiciais do consumo de carne para o meio ambiente. Comendo carne, nós não prejudicamos apenas aquele animal que foi morto, mas causamos um prejuízo que atinge uma escala global. A natureza é um organismo perfeito e harmônico, a menos que haja interferência nela, pois, ao mesmo tempo em que ela possui essa perfeição e essa harmonia, ela, também, possui uma característica preocupante: sua harmonia é frágil.
Basta prejudicarmos um elo de sua grande cadeia, para que a prejudiquemos como um todo.
Assim, o mesmo gado que sofre no abate para que possamos nos alimentar, nos vestir, nos calçar, etc, é o gado que incentiva o desmatamento de extensas áreas florestais para a criação de pastos. Esse desmatamento, além de intensificar o aquecimento global, que por sua vez vai derreter as geleiras e desestruturar todo o ecossistema do local, também acelera a extinção de espécies que perdem seu habitat, e que, devido ao ritmo acelerado das mudanças, não são capazes de se adaptarem a tempo para poder sobreviver... Vocês já viram a imagem de um urso polar desnutrido? Se não viram, vejam. Eu vi e, infelizmente, é uma das imagens mais terríveis que vi em toda a minha vida, e olha que já vi muita coisa terrível por aí. Fiquei em estado de choque. Sério. Não é exagero. Mas a imagem é inconcebível. Óbvio que também é terrível ver seres humanos desnutridos ou qualquer ser vivo passando por situações tão drásticas e tão potencialmente mortais. Mas, mesmo assim, a imagem desse urso polar se mantém absolutamente mais chocante em minha memória. Ele era, literamente, pele (e pelos, poucos, aliás) e osso. Terrível.
O pior é que, para convencer o ser humano a mudar seus hábitos destrutivos, o único argumento que parece eficaz para a maioria é o fato de que o próprio ser humano será prejudicado por essas ações. Em nenhum momento, quase, ouve-se falar na preservação por si só, ou por respeito aos outros seres vivos. Pelo contrário, é sempre porque fazendo isso ou fazendo aquilo o ser humano está se prejudicando e plantando sofrimento para si próprio ou para sua prole.
É um egoísmo absurdo. Um real antropocentrismo no sentido filológico do termo. O ser humano é o motivo de tudo, é o único que importa, é a partir dele que todo o resto deve se definir e é em benefício única e exclusivamente dele, quase sempre, que as demais espécies são tratadas.
É um egoísmo terrível.
O pior é que, além de egoísmo, é uma maldade absurda. E, por mais absurdo que possa ser para alguém realmente racional, esse egoísmo e essa maldade se estendem aos outros seres humanos que, com ele, convivem. Assassinatos, exploração de todo tipo, seja econômica, sexual, trabalhista, ou o que for, genocídios, estupros, linchamentos, matanças em nome de alguma religião, preconceitos, intolerância, agressão e uma imensa infinidade de atos são absolutamente rotineiros em nosso mundo. Alguns ainda conseguem nos chocar, outros já não são sequer percebidos, e outros, ainda, não são nem vistos como algo que "errado", de tão normais que se tornaram.
O grande problema talvez seja a capacidade humana de racionalizar (no mau sentido do termo) tudo o que pensam ou fazem. Tudo parece ter um motivo para ser feito, tudo tem uma justificativa quase sempre na ponta da língua, ou uma desculpa. Algumas dessas desculpas e dessas justificativas baseam-se na moral, outras nos costumes, outras em dogmas, outras em crenças, outras em ideologias...
As pessoas chegam a culpar, por exemplo, sistemas políticoeconômicos pelo fracasso de uma determinada nação. Mas, esses dias, conversando com colegas antes de entrar na aula, ouvi um comentário de que o comunismo não dará certo nunca, já que, até hoje, fracassou em todos os locais onde foi implantado. Nisso, uma colega virou-se para mim e minha amiga e soltou o seguinte comentário que, por mais óbvio, nunca tinha passado pela minha cabeça: e qual país capitalista deu certo afinal?
E percebi que é verdade. Nenhum deu certo. Verdadeiramente certo. Do contrário, as coisas não estariam da forma que estão. O pior é que os seres humanos culpam as estruturas, ou o outro, o diferente, pelo caos, quando, na verdade, o problema é O ser humano. O próprio. O mal ou o bem que ele pode causar independe de suas crenças ou ideologias, de sua religião ou opção sexual, de sua etnia ou do que quer que seja. O problema não está no capitalismo e a salvação não está, e nunca estará, no comunismo. O problema vai existir enquanto existirem pessoas. É terrivelmente simples assim. E, naquele momento, isso me ficou muito claro.
Nenhum sistema político, nenhuma ideologia, nenhuma religião dará realmente certo, porque é produto do ser humano e esse é passível de falhas. Aliás, a melhor descrição para o ser humano não é a de animal racional (pelo contrário, percebe-se que de razão, geralmente, há pouco), mas de animal que falha. Falha consigo, falha com o próximo, falha com o que lhe é diferente, falha com outras espécies, falha com os ecossistemas, falha com a vida como um tudo.
Mas eu sei que não é culpa dele (aliás o conceito de culpa, por si só, é nojento; já que o ser humano tem incutido em si, desde cedo, a ideia de que é culpado por tudo no mundo. mas não é nojento por ser totalmente mentira, pelo contrário, é verdadeiro em muitos aspectos, porém é nojento porque é hipócrita, já que poucos realmente fazem algo para mudar aquilo que lhe causa a culpa. há uma admissão irracional da mesma. o padre ou o pastor ou o monge ou quem quer que seja fala "você é culpado" e a pessoa responde com um "minha culpa" e fica tudo por isso mesmo. Simples assim, rápido e indolor).
Cada vez mais, eu percebo que observar e pensar doem. E olha que eu sou capaz de observar pouco e de pensar menos ainda. Mas ainda assim já dói. Fico imaginando como algumas pessoas admiráveis conseguiram viver nessas condições. Já não me parece tão estranho alguns enlouquecerem durante a vida.. pra ser sincera, está me parecendo mais absurdo alguém se manter "são" em vida.
No final das contas, loucos somos nós, que somos "normais" e que conseguimos não pensar a todo instante a respeito dessas coisas ou que, mesmo pensando de vez em quando, continuamos do mesmo jeito..

2 comentários:

Anônimo disse...

Ju,

Seu texto me sensibilizou muito. Vc foi muito assertiva na maneira como expos seus argumento, tb foi coerente. É duro lembrar q engolimos cadaveres qdo comemos carne. Até q pontos somos um depósito de cadaver?
É complicado argumentar, pois ambas ainda comemos carne. Mas, o fato é o q importa é que pensamos e nos sensbilizamos com a dor do outro. Isso já é um grande passo.
Queria parar, mas agora nao sei se dará, devido a cirurgia. Vamos ver...Preciso conversar com o médico e com a nutricionista.
Parabéns pelo texto!
Vc é maravilhosa!
bjooooo
daniiiiii

Juliana disse...

vc tb o é dani :*
eu to conseguindo parar de novo, depois de ontem. espero manter isso.
fale com seus médicos, mas se ainda não for possível parar, aguente mais um pouco e depois pare ;)
bjo