quinta-feira, 4 de junho de 2009

Se pirar, não piro sozinha

Já não é a primeira vez que me dizem que eu deveria escrever. Na verdade, já é a segunda pessoa que me diz isso, assim, do nada. Dizem que eu poderia ser um boa escritora... sinceramente, não consigo entender o porquê.
Bom escritor é o Dostoievski... o Kafka... sei lá, algum desses gênios da Humanidade.
É, acho que principalmente o Dostoievski.
Hoje, li Sonho de um homem ridículo. Ontem, li A Dócil. Foram as minhas primeiras leituras das obras dele depois de anos.. a única obra que havia lido foi Memórias do Subsolo e me lembro pouco dela.. mas lembro que tentei ler Crime e Castigo, mas não fui adiante. Pra ser honesta, sempre tive alguns receios na vida... Literatura Russa e Filosofia eram os principais. Sempre achei, ambos, muito difíceis para mim.. não que eu me ache burra, o fato é que os acho fenomenais.
Não toda a filosofia já feita, mas, via de regra, a maior parte dela. Acho o ato de filosofar algo complexo. Acho complexo compreender muitas das coisas que foram pensadas e, ainda mais, entender a forma como foram pensadas.
Já a Literatura Russa sempre me foi muito densa.
Acho que, de certa forma, não me considero à altura de ambos.. da Filosofia e da Literatura Russa.. são algo como um objeto idílico, muito contemplado e adorado, admirado, mas temido e, quase sempre, percebido e sentido como inacessível.
No entanto, esse ano estou enfretando esses meus dois objetos de adoração, não enfrentando no sentido de os combater, mas de tentar aproximá-los de mim... espero não fracassar totalmente.
Ainda são passinhos de principiante temorosa do porvir... o que será que vai acontecer?
Por exemplo, tenho que fazer um trabalho, a priori nada complexo, sobre cinema expressionista alemão. Eu mesma, inclusive, delimitei o assunto. Mas a palavra me falta, acho que mais: a idéia me falta. Estou lendo uma tese de doutorado sobre um aspecto do assunto para saber por onde começar. Parece piada né? Mas não é. Tamanha a minha insegurança. Não, tamanha a minha ignorância. Porque não os admiro apenas por sua complexidade, admiro, ambos, pela consciência da minha completa ignorância e pela minha completa incapacidade de fazer um centésimo do que já foi feito. Um centésimo já seria pretencioso: um zilionésimo.
Entretanto, que bom seria se eu fosse capaz.. não?
Ou se, pelo menos, tivesse me sido dada a dádiva do talento artístico, podia ser para a escrita, para a música, para as artes plásticas, para a representação, para a dança.. o que fosse. Ou, simplesmente, para compreender algo disso tudo. Não apenas admirar e me prostrar abobalhada perante meus ídolos.
Sim, acho que a única coisa que eu realmente admiro na humanidade é a Arte. A Arte em todas as suas formas. Aliás, incluo nessa concepção artística, também, a Filosofia. Acho que ela, nada mais é, do que a perita arte do pensar.
Mas não admiro todos os artistas. Na minha ignorância e inépcia, eu os seleciono (como se eu pudesse).. eu seleciono os que considero artistas geniais e humanos.
Aliás, o que é ser "humano"? Eu não sei.. ultimamente, tenho visto só barbarie e absurdos por ai.. não é a toa que temo me tornar cética.
Acho que eu pendo entro o ceticismo e a negação do ceticismo. Não sei se me faço entender, mas interiormente, duvido da Humanidade.. e, por outro lado, não duvido totalmente.
É como se eu relutasse em deixar de crer. Embora já não creia muito. Entende?
Algo como o último fio de esperança (ou seria der letzte Hilfschreie?).
É.. será que eu vou perder toda a esperança? Onde será que posso achar algo que me anime? Algo que me dê um pouco mais de coragem em acreditar?
Por enquanto, o pouco que acho, acho na Arte. Ela não me parece só o meio de expressar algo. Ela, muitas vezes, parece ser a própria expressão. Algumas vezes, o que é expresso, inclusive, só se torna caro e querido por ser feito artisticamente.
Eu queria ter algum talento. Mínimo que fosse. Nem que fosse um nada, um átimo.. qualquer coisa. O mínimo do mínimo. Ou o mínimo mínimo. Qualquer coisa.
Mas não tenho nada. Nada. Em absoluto. O absoluto Nada. O nada Absoluto.
Será que eu vou pirar?
Bom, se pirar, não piro sozinha. Não é mesmo?

4 comentários:

Nicole Godoy disse...

Pois do Dostoiévski eu li o mesmo livro que tu, Notas do subsolo e tentei ler Crime e castigo. Não fui adiante na leitura do segundo. Muito denso, usaste bem a palavra pra definir a literatura russa.
E a filosofia, ah a filosofia... tenho uma adoração semelhante, mas a minha consiste em tentar devorar tudo, absorver o máximo e eu não acho que isso seja muito bom porque eu acabo me confundindo e então digo pra mim mesma que se acalme e tento processar todas as informações. Depois tomo mais uma overdose. Hehe
Beijo, beijo, Ju.

Juliana disse...

então vc me entende.. só reagimos diferente hehehe
eu to tendo dificuldade para processar as coisas ultimamente..
acho que tô na onda do desconcerto do mundo ;(
bjo

Raquel disse...

pois eu nao li esses que vc citou mas to no meio do Crime e Castigo... bota denso nisso! mas vou ate o fim! e vc é umas das minhas amigas mais talentosas, senao a mais... amiga, voce escreve muito bem, isso é um talento e tanto, isso é muito dificil de fazer e vc faz muito bem... é ótimo, prazeroso ler as coisas que vc escreve...

Juliana disse...

obrigada ra :**
:)
eu preciso ler esse viu... hj li 4 poemas do brecht. ai tive que parar pra digerir hehe
e dei umas zoiadas por ai em outras coisas hehe
;*