domingo, 15 de janeiro de 2012

Faz séculos que não posto nada aqui, acho que nem deve ter alguém que ainda passe para ler ou ver se tem novidades.. mas hoje resolvi criar vergonha na cara e postar um dos inúmeros trechos do livro 1984, do George Orwell, que me chamaram a atenção e me fizeram refletir sobre o quanto já vivemos, em talvez menor escala, aparentemente, as coisas que ele narra... a vigilância sobre o que pensamos e fazemos, o domínio externo sobre nossas ideias, a manipulação, a alienação, a coisificação do ser humano. Claro que talvez não estejamos no mesmo ponto do livro que, como toda a obra de ficção (?), possui liberdade poética para criar ou aumentar certos fatos.. mas às vezes penso se realmente ainda não chegamos a esse ponto ou se apenas não somos totalmente capazes de perceber nossas amarras.. 
Pensar sobre isso não é exatamente reconfortante. Mas é importante, eu acho...
Fica, então, a dica de leitura... e pra animar quem estiver disposto, vai ai um pouquinho do que terão se lerem o livro. :)


“- Não vês que todo o objetivo da Novilíngua é estreitar a gama do pensamento? No fim, tornaremos a crimideia literalmente impossível, porque não haverá palavras para expressá-la. Todos os conceitos necessários serão expressos exatamente por uma palavra, de sentido rigidamente definido, e cada significado subsidiário eliminado, esquecido. Já, na Décima Primeira Edição, não estamos longe disso. Mas o processo continuará muito tempo depois de estarmos mortos. Cada ano, menos e menos palavras, e a gama de consciência sempre uma pausa menor. Naturalmente, mesmo em nosso tempo, não há motivo nem desculpa para cometer uma crimideia. É apenas uma questão de disciplina, controle da realidade. Mas no futuro não será preciso nem isso. A Revolução se completará quando a língua for perfeita. Novilíngua é Ingsoc e Ingsoc é Novilíngua – agregou com uma espécie de satisfação mística. – Nunca te ocorreu, Winston, que por volta do ano de 2050, o mais tardar, não viverá um único ser humano capaz de compreender esta nossa palestra?
(...)
- (...) Por volta de 2050, ou talvez mais cedo, todo verdadeiro conhecimento da Anticlíngua terá desaparecido. A literatura do passado terá sido destruída, inteirinha. Chaucer, Shakespeare, Milton, Byron – só existirão em versões Novílingua, não apenas transformados em algo diferente, como transformados em obras contraditórias do que eram. Até a literatura do Partido mudará. Mudarão as palavras de ordem. Como será possível dizer “liberdade é escravidão”, se for abolido o conceito de liberdade? Todo mecanismo do pensamento será diferente. Com efeito, não haverá pensamento, como hoje o entendemos. Ortodoxia quer dizer não pensar... não precisar pensar. Ortodoxia é inconsciência.” ( 1984 – George Orwell)